A intensidade da chuva nos últimos dias de maio e início de junho desse ano no Nordeste do Brasil não causou transtornos passageiros para a população das cidades atingidas. A chuva causou mortes e deixou muito sofrimento para as famílias de moradores daquela região.
Segundo informações da Defesa Civil, até dia primeiro de junho mais de 30 mil pessoas estavam desabrigadas em Pernambuco e em Alagoas. O número de desalojados já ultrapassa 24 mil. Oito pessoas morreram.
A cada atualização dos dados, aumenta o estrago causado nos Estados atingidos por enchentes. Somando Pernambuco e Alagoas, já são 4.525 famílias desabrigadas ou desalojadas.
Sem contar com as escolas estaduais, hospitais e sistemas de abastecimento de água que foram também danificados. Com isso, além de ter suas casas atingidas, parte da população está sem água, energia elétrica e atendimento médico. Pernambuco decretou Estado de Calamidade Pública.
Felizmente, o Governo Federal reconheceu a situação de emergência e o envio de ajuda humanitária já foi providenciado. Além disso, o Ministério da Integração Nacional anunciou o envio de 32 milhões de reais para os governos estaduais de Alagoas e Pernambuco.
Diversas instituições e entidades estão realizando arrecadação de alimentos não-perecíveis e objetos de higiene pessoal. Olhando pelo lado positivo, ao menos solidariedade e empatia não faltam nessa triste situação.
Mas por que essas chuvas causam tanto estrago? As regiões do agreste e da zona da mata, em Pernambuco, por exemplo, esperaram seis anos pela chuva. Por que Estados que são constantemente castigados pela seca sofrem também quando ela dá trégua?
Segundo meteorologistas, no Nordeste as chuvas ocorrem por causa de um fluxo de vento que vem do oceano carregado de ar úmido, formando nuvens chuvosas na costa e na zona da mata. Trata-se de um sistema chamado "Onda de Leste", comum nesta região durante outono e inverno.
Se este é um fenômeno comum na região, por que as cidades não estão preparadas para a ocorrência dele? Por que medidas não são tomadas para evitar que famílias sejam desabrigadas e vidas sejam perdidas?
As enchentes ocorrem quando há chuvas intensas em um curto período de tempo e, então, a vazão d'água excede a capacidade de escoamento. Na verdade, as enchentes são fenômenos naturais, mas podem ser intensificadas pelas práticas humanas no espaço das cidades.
As chamadas "enchentes antrópicas" – causadas pela interferência humana no ambiente – têm como uma das principais causas a deficiência do sistema urbano de drenagem da água. Basicamente, isso quer dizer que o excesso de água provindo da chuva não é escoado ou absorvido pelo solo, então, se acumula nas ruas e causa terríveis alagamentos.
O fenômeno se explica principalmente porque o solo urbano, com pavimentação de ruas e cimentação de calçadas, é praticamente impermeabilizado. Esse fato não só permite o acúmulo de água, mas também acelera a erosão, a qual permite a ocorrência de outros tipos de desastres ambientais urbanos.
Além disso, a falta ou entupimento de bueiros, ocupação desordenada do espaço geográfico e os altos níveis de poluição urbana também contribuem para a ocorrência das enchentes.
A questão dos alagamentos não é exclusiva da região nordeste, ela é um problema crônico de cidades pelo Brasil inteiro. Vale ressaltar que Goiânia está incluída nesse grupo. Ano após ano, os noticiários são tomados por notícias de tragédias causadas por desastres da natureza que poderiam ser evitados ou ao menos minimizados.
A melhor forma de lidar com esse problema, na verdade, é com prevenção. A construção de sistemas eficientes de drenagem, desocupação de áreas de risco, criação de reservas florestais nas margens dos rios e a diminuição dos índices de poluição e geração de lixo são algumas medidas que podem ser tomadas.
A questão das enchentes antrópicas não é um problema novo nas cidades brasileiras. Ainda assim, nada é feito no sentido de elaborar um planejamento urbano mais consistente. O sofrimento que se aflige em milhares de famílias todos os anos pode e deve ser evitado.
As consequências da relação de parasitismo do homem com a natureza são devastadoras. Se nada for feito, tragédias causadas por desastres ambientais vão ser cada vez mais comuns.
Não podemos nos esquecer de que o meio ambiente dá sinais claros de que precisa de atenção e o custo de ignorar tais sinais é extremamente caro.
Imagens:
1 - elielmi.blogspot.com
2 - Uol Notícias
3 - Uol - Educador Brasil Escola