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Las Chicas Del Mundo


Você conhece a série Las Chicas Del Cable? Lançada no dia 28 de abril, é a primeira produção espanhola da Netflix, e gira em torno de quatro diferentes mulheres vivendo em Madrid. Adaptada nos anos 1920, a série mostra um contexto de luta por direitos, e principalmente, por independência.


As protagonistas enfrentam dificuldades diversas: a pressão para o casamento; o medo de não ser aceita na cidade natal por ter ido viver sem os pais para trabalhar; ter de cortar relações com a família para ser dona do próprio destino e ser pressionada a deixar o emprego para cuidar da casa e dos filhos.



Mas será que tudo isso é coisa do passado?


As dificuldades enfrentadas pelas protagonistas, como por exemplo, a pressão pelo marido a deixar o emprego para cuidar dos filhos, são apenas uma representação do que enfrentaram e ainda enfrentam as mulheres na vida real.


Historicamente, nós mulheres fomos aprisionadas ao espaço privado, isto é, o lar, com a função de esposas e mães. Apenas entre o fim do Século XIX e início do Século XX foi que isso começou a mudar de forma concreta.


É claro que estamos falando de uma mudança na elite da sociedade, visto que mulheres pobres, e principalmente negras, sempre trabalharam. Acontece que o trabalho delas era desvalorizado e elas eram malvistas pela sociedade por trabalharem. Assim, essa atividade era apenas um complemento do trabalho masculino: se uma mulher trabalhava, era porque seu pai, irmão ou marido não ganhava o suficiente para sustentar a família.


A luta de mulheres burguesas pelo trabalho formal e intelectualizado se iniciou após a conquista do voto pelos movimentos sufragistas, que aconteceu em todo o mundo. Na Nova Zelândia, pioneira no sufrágio universal, foi em 1893. No Brasil, em 1932. Na Arábia Saudita, elas votaram pela primeira vez em 2015.


Mas a realidade é contraditória, e nem sempre os direitos da mulher são respeitados na prática conforme as leis dizem que estão garantidos hoje em dia. Nós estudamos, trabalhamos, votamos e somos eleitas. Então, o que é de errado?


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2013 as mulheres ocupavam 43% dos postos de trabalho. Mas segundo o Sistema Estadual de Análise de Dados (Sedae), 61% delas trabalham de maneira informal e precária, sendo que entre as mulheres negras a incidência é muito maior: 71% delas têm um trabalho precário, principalmente como empregada doméstica.


Outro dado é alarmante: ganhamos 30% a menos que os homens para realizar uma mesma função e tendo a mesma experiência. Isso pode ser um reflexo daquela antiga visão do trabalho feminino como complementar ao masculino.

Também sofremos assédio sexual e moral. Não existem dados precisos sobre isso no Brasil, mas segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 52% das mulheres já sofreram assédio no trabalho.


Sem falar nas inúmeras pressões sociais que enfrentamos até hoje. Claro que uma mulher pode querer ser uma boa profissional e ter uma carreira de sucesso, pero no mucho. Se ela afirma que prefere se dedicar ao trabalho ao invés da família, é chamada de egoísta, enquanto se um homem diz a mesma coisa, é porque é dedicado.


Às mulheres é garantido o direito de não serem demitidas quando ficam grávidas, e é assegurada a licença maternidade. Mas quatro ou seis meses depois, muitas delas são demitidas assim que voltam a trabalhar. E depois da demissão, fica bem pior: precisando sustentar um filho, ela tem dificuldades de arrumar um novo emprego.


Recentemente, um post no facebook mostrou diversos anúncios de emprego voltados a mulheres, porém exigindo que elas não tivessem filhos, o que é uma prática discriminatória e contra a lei.


Também existem as chamadas profissões de homem e profissões de mulher. Há quem acredite que uma mulher pode ser professora, pediatra, cabeleireira, modelo, mas não cientista, engenheira, mecânica, jogadora de futebol, piloto de avião, motorista. Como se o sexo fosse pré-requisito para a profissão.

Já deu pra ver que o mercado de trabalho nunca foi e não é fácil para nós, não é mesmo? O que nós, mulheres, podemos continuar fazendo, é lutar para ocupar espaços. Lutar para nosso salário nos sustente, ao invés de ser uma ajuda na renda familiar. Lutar para ser a mulher numa suposta profissão de homem. Denunciar os abusos cometidos contra nós e não desistir.



Imagens: Brasil Escola e Portal dos Trabalhadores

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