Fizemos um apanhado dos fatos para ajudar quem está um pouco perdido no meio de tanta reviravolta
Desde o momento em que o colunista Lauro Jardim revelou, no site do jornal O Globo, que gravações feitas pelo empresário Joesley Batista, da JBS, foram entregues ao Ministério Público Federal – e que, nesses áudios, o presidente Michel Temer foi flagrado dando anuência ao fato de Joesley estar pagando pelo silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha – a política brasileira não teve mais um minuto sequer de tranquilidade. Essa bombástica revelação tem gerado diariamente um fluxo enorme de desdobramentos e se tornou um desafio ficar a par de tudo, mas não se preocupe, caro leitor. O Matéria-Prima juntou os fatos mais importantes – em relação ao presidente Temer – de segunda-feira (22) até quinta-feira (25) para você ficar em dia com a novela que é a política no Brasil.
Segunda-feira (22/05) - “Não renuncio; se quiserem, me derrubem”
A semana começou agitada com a publicação de uma entrevista com Michel Temer no jornal “Folha de São Paulo”. Na matéria, o presidente reiterou que não renunciará porque, caso o faça, seria “admissão de culpa”. Além disso, afirmou também que não sabia que Joesley era alvo de investigações quando o recebeu em sua residência - embora a JBS tenha sido alvo de três operações recentes do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Será que o líder do Executivo não lê ou assiste jornais? –. Para justificar ter aceitado a visita do empresário, Temer disse que achou que o assunto seria a Operação Carne Fraca – a qual foi deflagrada apenas dez dias depois do referido encontro. A questão do assessor Rocha Loures, a crise política e outros assuntos também foram abordados. A leitura da entrevista na íntegra vale a pena, você pode encontra-la aqui.
O presidente desistiu de interromper o processo contra ele no Supremo Tribunal Federal e decidiu contratar uma perícia independente para se defender. Mas, mesmo com as tentativas do presidente Temer de se justificar, na segunda-feira, já haviam 14 pedidos de impeachment apresentados na Câmara. E, para completar, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, anunciou, também no dia 22, que a OAB apresentará um pedido de impeachment ainda durante a semana.
Terça-feira (23/05) – Confusão no Congresso Nacional
No dia em que a Polícia Federal (PF) recebeu o segundo gravador usado por Joesley para registrar as conversas com Michel Temer, Ricardo Molina, o perito contratado pelo presidente, afirmou que faltam seis minutos de conversa e que o áudio entregue à PF foi editado.
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) deveria ler o relatório da reforma trabalhista – um dos projetos mais importantes do governo Temer – o que poderia provar que, mesmo com toda crise, a gestão segue firme. Contudo, houve muita confusão com gritaria, dedo na cara e empurrões entre base aliada do governo e da oposição. O projeto seguiu caminho sem leitura do relatório. Certamente, os ânimos estão tão alterados dentro do Congresso quanto estão do lado de fora.
Em sua coluna no site G1, Andréia Sadi, afirmou que aliados de Temer admitem, de forma reservada, que pode haver a cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da chapa formada por ele e Dilma Rousseff na eleição de 2014. Além disso, revelou que, nos bastidores, os nomes debatidos em caso de eleições indiretas são os do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Enquanto isso, advogados do presidente Temer seguem em sua árdua missão de defendê-lo perante tantas acusações e atestam que delação premiada não seria “prova por si só”. Além de tudo, foi retirada da pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) de ontem a PEC que autoriza eleições diretas em caso de vacância da presidência da república, até seis meses antes do fim do mandato.
Quarta-feira (24/05) – Manifestações, convocação de tropas e guerra aos memes
Foi realizado em Brasília um protesto intitulado “Ocupa Brasília”, o qual contou com a união das centrais sindicais e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), as quais não costumam caminhar juntas. Entretanto, infelizmente, esse não foi o único fato que chamou a atenção durante o protesto. A ação agressiva dos policiais e o fato de alguns manifestantes terem atacado a edifícios públicos – ao menos sete ministérios – transformou a Esplanada dos Ministérios em um campo de batalha. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, 49 manifestantes foram feridos. O ato reuniu 150.000 pessoas segundo os organizadores e 45.000 de acordo com a polícia.
Como resposta, Michel Temer chocou o País e gerou muita controvérsia ao determinar que 1.500 homens das Forças Armadas passassem a fazer o policiamento de prédios públicos até o próximo dia 31 de maio. Desconsiderando a época das Olimpíadas e crises estaduais, foi a primeira vez que a capital federal seria policiada por militares desde a ditadura (1964 – 1985).
Enquanto isso, no Senado, “Diretas Já” começa a caminhar a partir de proposta encaminhada pela oposição do governo. Promotores da medida admitem, contanto, que mudança só terá chance real se houver pressão popular.
Preocupada com assuntos que realmente importam, a presidência da república entrou em contato com sites que criam memes com fotos do presidente Michel Temer e lhes enviou alertas para não fazer mais isso. A justificativa foi de que imagens devem ser usadas apenas com fins jornalísticos ou para expor ações do governo.
Para a felicidade geral da internet, o Partido dos Trabalhadores (PT) resolveu contra-atacar a atitude da presidência e criou um álbum com mais de 400 fotos de Michel Temer na sua conta no Flickr. “Golpista enviou notificações para quem usou fotos oficiais em memes sobre a crise política. O PT coleciona imagens do usurpador com uso liberado, inclusive para memes”, declarou o PT na descrição do álbum em questão.
Quinta-feira (25/05) – Pedido da OAB e Temer volta atrás
Quinta-feira, praticamente no final da semana, eis que a OAB entregou à Câmara dos Deputados seu pedido de impeachment contra presidente Michel Temer. A entidade se baseou na delação premiada dos executivos da JBS, depoimentos que estão no inquérito do STF e declarações do próprio Temer para afirmar que houve sim crime de responsabilidade e violação de decoro do cargo de presidente. A essa altura do campeonato, outras 16 solicitações de impeachment já haviam sido protocoladas na Câmara.
Entrementes, sofrendo pressão por diversos lados, Michel Temer voltou atrás e revogou decreto que autorizava a presença das Forças Armadas na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Após a publicação da edição extra do "Diário Oficial", os ministros da Defesa e do GSI concederam uma coletiva no Planalto para explicar a decisão de retirar as tropas do centro da capital tupiniquim.
Seguindo a hercúlea tarefa de se defender, Temer publicou em suas redes sociais um vídeo no qual afirma que as manifestações, nas quais milhares de manifestantes pediram sua saída, "ocorreram com exageros". "O Brasil não parou e não vai parar. Continuamos avançando e aprovamos matérias importantíssimas no Congresso Nacional. As manifestações ocorreram com exageros, mas deputados e senadores continuaram a trabalhar em favor do Brasil", afirmou Temer no vídeo.
Bem, por enquanto, esses foram os desdobramentos da crise política – de dar inveja a qualquer seriado "House of Cards" – que está acontecendo no Brasil. Fique atento para mais informações porque, da maneira em que a situação segue, é impossível prever o que pode acontecer daqui a meia hora.
Fontes: G1 Globo / El País Brasil / Uol Notícias / Folha de São Paulo / Exame online