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A linha tênue entre cantada e assédio que não deve-se cruzar

Na segunda-feira (08/04) uma aluna da regional da UFG de Jataí denunciou um docente da instituição por abuso sexual. O caso, segundo a estudante, ocorreu em 2016, quando o professor e ela encontravam-se hospedados em Goiânia, dividindo apartamento, para participar de um congresso que ocorria no período.

Ana Elisa Gomes Martins, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), explica para o site G1 que a demora na realização da denúncia foi devido ao medo da estudante. Para que a jovem tomasse o primeiro passo em busca da punição do agressor, foi necessária ajuda psicológica.


Esse caso chama atenção não só para os abusos, mas também para os assédios que ocorrem diariamente nos campus universitários. Tal comportamento é denunciado com certa freqüência desde o dia 3 de maio na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. 6 situações foram registradas. O ofensor aproveitava para “encostar” em estudantes nos banheiros da instituição. A PUC declarou, por meio de nota, repúdio ao ato, e alegou ter tomado medidas quanto à situação encaminhando a ocorrência a autoridades competentes e prestando assistência jurídica às vítimas.


Quando a agressão permanece na invisibilidade, a vítima guarda consigo dano psicológico e moral, enquanto o agressor sai impune. Os motivos mais freqüentes para esse silenciamento da vítima em relação ao ocorrido são tais como uma relação hierárquica inferior ao assediador, professor e aluna, por exemplo.


Outro episódio frequente é que essas práticas violentas passam despercebidas quando são nomeadas como trote, ou seja, brincadeira para “aprofundar” as relações entra calour@s e veteran@s. Ocorrência comum principalmente nas festas denominadas calouradas, e até mesmo nas choppadas. Essa ação parte de uma concepção enganosa, misógina e extremamente machista na qual pressupõe-se que as mulheres nas festas estão disponíveis para envolver-se com qualquer um, sem critério de seleção, sem que precisem consentir nada.

Segundo pesquisa realizada em 2015 pelo Instituto Avon e Data Popular, 27% dos universitários não consideram violência abusar de garotas bêbadas. Ou seja, quando alguém faz reclamação por sofrer assédio nesse tipo de ambiente, é culpabilizado simplesmente por estar presente no lugar.


Se a vítima, apesar disso, consegue reunir coragem para abrir processo nas reitorias, muitas vezes ainda depara-se com outro obstáculo, o aparato burocrático que além de moroso pode revelar-se ineficiente.


Ajuda entre estudantes


Uma maneira que estudantes têm encontrado de discutir sobre o assunto e pressionar os gabinetes acadêmicos responsáveis pela resolução dos casos de assédio são coletivos, como os feministas por exemplo. Dentre eles podem ser citados o Pagu, fundado em 2014 por estudantes do curso de Direito e o Nonô, formado em 2015 por estudantes do curso de jornalismo, ambos da UFG.


De acordo com Camila Borges, estudante de Direito e uma das envolvidas no Pagu, esse grupo surgiu devido a uma demanda natural gerada pela quantidade de assédios que ocorriam e ainda ocorrem. “Primeiramente a gente orienta a aluna a dirigir-se para a Delegacia da Mulher. Caso seja um professor ou aluno da UFG, apoiamos a menina a entrar com um processo junto à reitoria, gerando uma denúncia formal contra esse membro da Universidade, para que as medidas cabíveis sejam tomadas” acrescenta Borges.


Antes dos processos os coletivos costumam conversar com as estudantes envolvidas, pois as denúncias serão melhor apuradas se a vítima procurar ajuda por conta própria. Após esse aconselhamento são oferecidas várias assistências como, por exemplo, apoio psicológico dentro do próprio campus.


Contatar o Pagu para auxílio nessas situações é simples. É necessário somente enviar mensagem por meio da página delas no Facebook {https://www.facebook.com/coletivo.pagu/}, ou conversar diretamente com as estudantes-membro. Para participar do coletivo e das reuniões que costumam tocar no assunto e diversos outros, a iniciativa é a mesma, basta entrar em contato.


Essa coletividade é responsável por eventos dentro da universidade, tais como o “Precisamos falar sobre”, no qual são discutidos temas do universo das mulheres, apoiados por textos para as discussões. Todos esses encontros são divulgados nas redes sociais.


Camila Borges deixa um alerta para que seja possível entender os limites entre levar uma cantada e sofrer assédio. “São duas coisas bem parecidas na teoria e por isso às vezes são confundidas. O assédio é a situação em que a vontade não é mútua. É violento, mais invasivo e até mais traumático. A cantada é quando a envolvimento de ambas as partes, se a pessoa te passa a cantada você corresponde.”


Ajuda da universidade


Outra maneira de fornecer ajuda e, ainda, estabelecer punições para os culpados é a denúncia para as ouvidorias das faculdades. Essa possibilidade é também fruto da demanda das estudantes por um apoio maior por parte da Universidade. "A ouvidoria da UFG é um órgão formado por profissionais de várias áreas que procura maior eficiência na resolução do reclamado pelos indivíduos. [...] qualquer pessoa, seja membro da comunidade universitária ou público externo, pode encaminhar suas demandas relacionadas a denúncias, elogios, reclamações, sugestões e informações, no âmbito da UFG”, é o que afirma o site da instituição.


Uma aluna da UFG (que preferiu não se identificar) afirma que em 2016 fez reclamações a respeito de um estudante que a assediou e não recebeu resposta por parte da ouvidoria. O mesmo estudante era suspeito de vários outros casos similares e a falta de medidas contra ele foi uma das contestações no âmbito das reuniões de coletivos feministas.


Reclamações podem ser feitas na UFG pelo número da ouvidoria, o (62) 3521-1149. Ir pessoalmente é outra possibilidade, é só se encaminhar à sala da Ouvidoria, no Campus Samambaia, no prédio da Reitoria em Goiânia. Online é possível fazer denúncias pelo email ouvidoria.reitoria@ufg.br ou pelo link sistema.ouvidorias.gov.br.


Na Pontifícia Universidade Católica de Goiás a ouvidoria atende as solicitações e denúncias por preenchimento de formulário online no site sites.pucgoias.edu.br/home/faleconosco/. O telefone para contato é (62) 3946-1588 com atendentes disponíveis de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h. Se a preferência for email, o endereço é ouvidoria@pucgoias.edu.br.


Indicações


O curta-metragem de aproximadamente 10 minutos chamado Marjorite Oprimée (Maioria Oprimida), dirigido pela atriz e diretora francesa Eléonore Pourriat, trata do assunto do assédio principalmente dirigido a mulheres, de forma cômica e ao mesmo tempo chocante. Como seria um cenário onde mulheres fossem responsáveis pela opressão exercida por muitos homens hoje? Essa é a questão que o vídeo procura responder.

Com um final surpreendente, é definitivamente um must (obrigação) para quem pretende reforçar a compreensão sobre essa matéria, mesmo que o vídeo trabalhe o assédio igualmente fora do âmbito das universidades.


Imagens: 1 e 2 - Reprodução - Coletivo Pagu

3 - Filmow

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