Com o passar dos anos, a “cultura fitness” tem criado diversos vilões na alimentação das pessoas. Açúcar, sal, leite, farinha e muitos outros já tiveram sua vez, mas o que não se leva em consideração é que cada indivíduo tem seu próprio organismo, o qual reage de maneira diversa aos diferentes alimentos. Essa situação transforma certos temas em tabus e faz com que muitos não deem a devida atenção a assuntos que a mereceriam. Intolerâncias e alergias alimentares passam a ser vistas como frescura e poucos buscam se informar corretamente. Daí a importância da realização de campanhas de conscientização. No mês de maio, quem entra em pauta é a doença celíaca. Mas, afinal, o que é isso?
A doença celíaca é uma doença autoimune – que ocorre quando o sistema imunológico do corpo ataca células saudáveis. –, desencadeada pela ingestão de glúten, uma proteína encontrada no trigo, aveia, centeio, cevada e malte. Ela ocorre em pessoas com tendência genética à doença e, se não tratada, resulta na atrofia dos intestinos, má absorção de nutrientes essenciais e pode levar à morte. O diagnóstico é feito através de exames de sangue específicos.
Os sintomas variam para cada indivíduo, mas geralmente incluem diarreia crônica (que dura mais de 30 dias); dores nas articulações e/ou no abdômen; anemia, desnutrição, fadiga e distensão abdominal (barriga inchada). Entretanto, alguns casos podem ser assintomáticos. Ainda não há cura para a doença celíaca, mas é possível trata-la, cortando completamente o glúten da alimentação, de forma a garantir a saúde e o bem estar dos portadores.
Paty Fagundes, empreendedora, sofreu com problemas de saúde constantes desde a infância até os 23 anos, quando foi diagnosticada com a doença celíaca. Hoje, dois anos pós retirar o glúten de sua dieta, conta que sua qualidade de vida mudou completamente. No início, a dificuldade foi grande, mas quando compreendeu quanto o glúten lhe fazia mal, a consciência em relação à sua saúde falou mais alto, conta Paty.
Contaminação cruzada
Além de eliminar a ingestão de alimentos que contenham glúten, os celíacos devem também estar sempre atentos à possibilidade de contaminação cruzada, que é quando há transferência de partículas de glúten de um alimento para outro. Essa contaminação pode se dar diretamente ou indiretamente, isto é, pode ocorrer durante o plantio, colheita, armazenamento, industrialização, transporte ou manipulação de alimentos.
Nesse sentido, com o objetivo de não ingerir a proteína que lhes faz extremamente mal, os celíacos devem tomar cuidados diários e constantes com o que consomem. Sempre que possível, os ambientes para preparo de alimentos com e sem glúten devem ser separados; utensílios utilizados para o preparo (colheres de pau, panelas, torradeiras, liquidificadores, etc.) e manuseio (garfos, facas, colheres) de alimentos sem glúten não devem ser os mesmos que os utilizados para alimentos com glúten, além disso, a esponja para lavar essa louça também deve ser exclusiva. E essas são apenas algumas das precauções que fazem parte do dia-a-dia do celíaco.
Desafios
Segundo a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (FENACELBRA), embora a doença celíaca seja muito antiga, tinha-se pouco conhecimento científico a seu respeito até algumas décadas atrás. A falta de informação faz com que as poucas discussões acerca da doença celíaca ainda sejam permeadas pelos “achismos”, o que se torna mais um obstáculo a ser superado.
Para Ester Benatti, que é professora de artes visuais e tem doença celíaca, os principais desafios são em relação ao desconhecimento e despreparo de profissionais de diferentes áreas, desde os próprios médicos até aqueles que trabalham nos setores de alimentação. Claudia Rocha, bióloga e diagnosticada aos 29 anos, passa pelas mesmas dificuldades, “Ninguém te compreende, todos acham exagero, e praticamente todo mundo desconhece o que seja doença celíaca.”, conta.
O entendimento e compreensão vinda daqueles que estão próximos a você é a parte mais difícil, endossa Paty Fagundes. A família, os amigos e os conhecidos muitas vezes acham que nossos cuidados são bobagens e insistem com o clássico “experimenta só um pedacinho”, afirma.
Preconceito
A dieta sem glúten é vista por muitas pessoas como mera estratégia para emagrecer, gerando mais problemas para portadores da doença celíaca, os quais sofrem com o preconceito da sociedade. Frequentemente taxada de fresca, paranoica e exagerada, Claudia acredita que por pura falta de conhecimento, as pessoas acabam magoando quem tem restrições alimentares. Sair de casa é sempre um desafio e, como consequência, “A falta de informação só faz parecer que nós vivemos em uma bolha e é o celíaco que está sempre errado”, reclama Paty.
Ester defende que o foco das discussões deve ser os celíacos e não a dieta sem glúten, a qual é cercada de mitos. É, na verdade, o que acreditam as três entrevistadas pelo Programa Matéria-Prima. “Acho que a melhor maneira de desmistificar um assunto é falando sobre ele, com informações reais e confiáveis. Precisamos muito falar sobre doença celíaca, em todos os níveis. Acho que a melhor maneira de desmistificar um assunto é falando sobre ele, com informações reais e confiáveis. Precisamos muito falar sobre doença celíaca, em todos os níveis”, sintetiza Claudia.