Uma pesquisa feita nos Estados Unidos em 2016, publicada na American Sociological Review e na Harvard Business Review, mostrou como as mulheres, pelo simples fato de poderem um dia ser mães, são prejudicadas na busca por um emprego. No experimento, foram criados dois currículos fictícios, porém idênticos. O único diferencial entre eles é que um pertencia a um homem e o outro, a uma mulher. Constatou-se que o currículo masculino foi recrutado três vezes mais pelas empresas. Será por quê? O que diferencia tanto o profissionalismo dos dois?
Muitas mulheres encontram dificuldades na hora de conseguir um trabalho por serem mães. Na hora da entrevista de emprego, os questionamentos acerca da maternidade não podem faltar. A estudante Thais Borges, de 22 anos, por exemplo, passou por situações humilhantes em suas buscas por uma contratação. Ela conta que “cara torta” e “perguntas absurdas” são comuns quando os entrevistadores sabem que ela tem um filho pequeno.
“Há duas semanas, tive uma entrevista em uma loja de cosméticos. Uma funcionária veio brincando: ‘Não esquece de falar dos filhos, viu? Porque a última que trabalhou aqui todo dia levava um produto para o filho, abusava do desconto de funcionário e ficava faltando. Mas você nem deve ter filho, né? É nova, bonita...’. Quando eu afirmei que sou mãe, ela se retratou dizendo que a empresa via todas as mulheres de forma igual. Me deu um kit de sabonete, certamente para calar minha boca, e disse que iria repassar minha ficha. Nem preciso falar que nunca me ligaram, né?”, desabafa Thais.
E esta não foi a primeira vez que ela se viu de mãos atadas devido à maternidade. Ao descobrir que estava grávida, dois anos atrás, foi dispensada do serviço que havia acabado de começar em um supermercado. Desde então, continua desempregada. Em outra ocasião, quase foi contratada, mas desistiram dela ao saber de seu filho. “Elogiaram meu currículo e queriam que eu começasse logo, mas voltaram atrás depois de saberem que sou mãe”, relata.
Mulher moderna
Casos como o de Thais são corriqueiros e, justamente por isso, é preciso sabermos quais são os amparos legais para a mulher trabalhadora quando o assunto é maternidade. Ela tem direito à licença-maternidade, de quatro a seis meses, ao salário-maternidade e à garantia de seu emprego, não podendo ser demitida desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.
Já a licença-paternidade dura apenas vinte dias, e somente este dado já demonstra o quanto o papel do pai é subestimado na vida de uma criança. Em entrevistas, os homens não são questionados sobre terem ou não filhos, pois isso simplesmente não mudaria sua produtividade no trabalho. Ou seja, entende-se que cabe apenas à mulher a função de doar-se totalmente em favor de sua prole, a ponto de colocar todas as outras áreas de sua vida abaixo disso.
A neuropsicóloga Karinne Araújo afirma que a premissa de que a mulher precisa dar conta, sozinha, de afazeres domésticos, filhos e carreira não é mais uma verdade, embora não deixe de ser a realidade de muitas. Ela ressalta que a mulher moderna é, sim, capaz de cumprir inúmeras tarefas, mas isso não deve ser obrigação feminina, apenas. O homem é parte disso tudo e precisa participar igualmente de todas as atividades. A respeito de quando isso não acontece, Karinne se preocupa com a saúde da mulher.
“Parece que nós, mulheres da atualidade, queremos abraçar o mundo. Temos vários afazeres e obrigações, sempre cobrando de nós mesmas a perfeição em tudo. Passamos o dia no trabalho lutando para evoluir na carreira, ao mesmo tempo em que pensamos nas tarefas domésticas. Nos culpamos porque não conseguimos fazer tudo da forma como planejamos, como gostaríamos de fazer e por não termos o controle. Tudo isso acaba por gerar em nós um estresse acentuado. Por desrespeito aos nossos limites, acabamos nos esquecendo de nós mesmas”, explica a especialista.
Soluções
Sobre a pergunta feita no início do texto, já sabemos que não, nada difere o profissionalismo e a capacidade intelectual do homem e da mulher. O que está em questão é como o mercado de trabalho recebe a mulher que é a mãe. Dados do último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, apontaram que 51,4% da população do Brasil, um país com mais de duzentos milhões de habitantes, é feminina. Destas mulheres, pelo menos 60 milhões são mães.
Portanto, é notável a necessidade de existir, verdadeiramente, uma política de apoio à maternidade. Tanto os órgãos públicos como as empresas privadas, ao invés de dispensar uma mãe ou deixar de contratar uma mulher pela possibilidade da gravidez, deveriam apoiá-las nas decisões que tomam. Estão deixando de usufruir da competência de incríveis mulheres.
Com o devido apoio, a felicidade e bem-estar das mulheres mães se tornam muito mais fáceis de atingir. Consequentemente, a produtividade da trabalhadora também é beneficiada. Já existem empresas que se preocupam e respeitam a maternidade, e elas devem ser exemplo para o restante. Este é um direito da mulher que, como todos os outros, deve ser resguardado.
A flexibilização de horários e a redução da jornada de trabalho propiciam melhor exercício da maternidade, de forma que a criança receba os cuidados necessários dos próprios pais. Além disso, o oferecimento de creches e pré-escolas também é muito bem-vinda.
Arte: André da Loba (NY TIMES)