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Velocidade e simplicidade: a escrita taquigráfica

No dia 3 de Maio foi comemorado o Dia do Taquígrafo. A palavra nos remete a Datilografia e parece que é um método ultrapassado, mas ao contrário da segunda, a taquigrafia ainda é muito atual e continua em plena atividade principalmente nas Assembleias Legislativas. Os taquígrafos são os responsáveis por registrar tudo o que acontece nas sessões ordinárias, audiências públicas e seminários, dos discursos aos gestos corporais esses profissionais trabalham numa velocidade impressionante.


Vamos primeiramente conhecer um pouco da história dessa técnica de escrita. O ex-taquígrafo e professor de taquigrafia Waldir Cury, nos leva a uma viagem sobre a história da taquigrafia (confira aqui o texto na íntegra), que remonta ao século I antes de Cristo com as Notas Tironianas inventadas por Marco Túlio Tiro, que foi um escravo e secretário de Cícero, o grande orador romano. E o sistema de abreviaturas desenvolvido por Tiro foram usadas até o final do século XI, quando aparentemente desapareceram.


Somente por volta de 1482 que estudos, feitos pelo abade Johann Heidelberg que mais tarde ficou conhecido com Tritêmio, fizeram com que ele redescobrisse as Notas Tironianas. Jan Van Gruytère (o Grutero) aproveitou os estudos de Tritêmio e publicou em 1602 uma coleção de 13.000 Notas Tironianas. Mas num primeiro momento os eruditos consideravam essa forma de escrita como criptografia, apenas em 1817 com Federico Ulrico Kopp que os elementos e leis que regulavam essa técnica foram elucidadas e convertidas em quatro grossos volumes de livros contando a história e explicando as regras das Notas de Tiro.



A partir da redescoberta das técnicas taquigráficas de Tiro, a taquigrafia exerceu papel excepcional na época dos grandes pregadores das Cruzadas, no século XII. Amadurece com as pregações das novas Ordens religiosas, como os Dominicanos, os Franciscanos e Agostinianos. Esses pregadores costumavam ir de pais a pais falando em praças públicas onde se erguiam púlpitos improvisados. As pregações chegavam a durar umas quatro horas.


Anos depois a máquina que poderia ter sido o fim da taquigrafia contribuiu para sua reinvenção, a prensa de tipos móveis de Gutenberg. Mas o fenômeno da máquina impressora se junta o redescobrimento da antiga taquigrafia romana, incentivado pelo movimento humanista. E a partir dos novos estudos das Notas Tironianas novos sistemas e adaptações taquitográficas foram desenvolvidos. E o país que serviu como ícone dessa renovação foi a Inglaterra, onde se desenvolveu o germe da arte estenográfica.


Num primeiro momento os métodos que foram criados muito se assemelham as abreviaturas que usamos hoje em nossas conversas virtuais. Até que em 1588 Timothy Bright publicou um manual de escrita abreviada. A grande novidade desse livro foi ter sido a primeira reprodução impressa de um livro do gênero, o que assegurou uma ampla difusão entre o público.


O elemento fundamental da taquigrafia de Bright é a reta vertical, de escritas em colunas com andamento vertical descendente, como na escrita chinesa, não em linhas horizontais como na nossa escrita comum. Porém o sistema de Bright apresentava dificuldades no sentido de demandar grande malabarismo mental, era necessário memorizar muitas regras para utilizar sua técnica.


Faremos um salto até o século XVII. Nesse período a instituição dos parlamentos e das cortes de justiça, as discussões políticas e religiosas, literárias e filosóficas fizeram, com o tempo, sentir a necessidade de um instrumento gráfico para recolher a expressão de uma vida nova. Nesse contexto entra o bacharel em teologia John Willis, em 1602 publica em Londres um sistema de estenografia com regras fáceis e seguras destinadas a qualquer público e para o uso de todas as profissões.



Depois muitos autores imitaram e melhoraram o sistema de Willis. Até que em 1786, um professor de estenografia de Oxford, Samuel Taylor, publicou um livro com um sistema de taquigrafia idealizado por ele. Nesse sistema as palavras se escrevem de acordo com o som, independentemente da ortografia ordinária e com um traçado contínuo da pena. O sistema de Taylor teve grande difusão até hoje e foram numerosos os sistemas derivados do dele.


Finalmente em 1837, o mestre inglês Isaac Pitman se propôs a popularizar o estudo da taquigrafia. O sistema taquigráfico desenvolvido por ele servia-se da geometria e na disposição dos símbolos em duplas, de acordo com a semelhança dos sons, diferenciando o som mais marcado com o engrossamento do sinal. O sistema Pitman se tornou tão popular que suplantou o sistema Taylor e acabou sendo aplicado em quase todas as línguas.


A taquigrafia no Brasil


Assim como cada idioma tem fonemas diferentes, cada idioma precisou desenvolver um tipo diferente de taquigrafia. No Brasil, de acordo com a revista Mundo Estranho, o método mais comum foi criado em 1926 pelo estudante de medicina Oscar Leite Alves, que usou formas geométricas para representar fonemas, a simplificação criada por Alves utiliza sinais gráficos muito mais simples do que as letras que usamos no dia-a-dia.


A chegada dessa técnica nas terras tupiniquins aconteceu por iniciativa de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, para registro das sessões da Assembleia Nacional Constituinte de 1823. Posteriormente o seu uso foi estendido para o Judiciário, se tornando muito importante na divulgação dos debates parlamentares, dos julgamentos e para a memória histórica do nosso país.


Taquigrafia enquanto profissão


Alguém pode estar argumentando, se todo mundo tem um gravador qual a utilidade dessa técnica? Hoje em dia os taquígrafos sobrevivem nos tribunais, anotando e traduzindo depoimentos em um julgamento por exemplo. Segundo dados da Revista Mundo Estranho, apesar de ser uma carreira difícil ela é consideravelmente rentável, um bom taquígrafo, capaz de escrever em velocidade quase simultânea a um diálogo comum, pode ganhar cerca de 3 mil reais por mês.


Hoje no Brasil existem pouco menos de mil profissionais da área da taquigrafia. Segundo o site taquígrafos.com, esta é uma classe pequena, com poucos professores e os concursos públicos da área tem poucos candidatos em comparação aos concursos em geral. Apesar disso, os profissionais taquígrafos brasileiros têm buscado de aprimorar através da organização de associações, encontros e congressos nacionais e internacionais conforme dados do blog da taquígrafa Lizete de Almeida Castro.


Sobre o dia do taquígrafo


A data de 3 de Maio foi escolhida pela classe dos taquígrafos quando se reuniram soberanamente no 1º Congresso Brasileiro de Taquigrafia, evento realizado em 1951 na cidade de São Paulo. A iniciativa da criação da data foi tomada pelo gaúcho Adoar Abech. Esse dia foi especificamente escolhido porque foi nessa data que foi instituída oficialmente a taquigrafia parlamentar no Brasil, no dia 3 de Maio de 1823 – há exatos 194 anos, para funcionar na primeira Assembleia Constituinte.


Imagens: reprodução

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