Nesta sexta, em Goiânia, vimos um caso concreto em relação à truculência policial e como as pessoas geralmente associam a postura ideológica como justificativa para a legitimação dessa violência. Durante a manifestação em virtude da greve geral de ontem (28), Mateus Ferreira, estudante de Ciências Sociais pela UFG, levou golpes de cacetete na região da cabeça. Segundo cobertura do Matéria-Prima, o estudante ficou consciente durante o socorro, mas apresentava sinais circunstanciais graves devido ao não estancamento do sangue. Mateus atualmente se encontra no HUGO e o estado do estudante é grave.
A justificativa da truculência se deu pelo suposto ataque do estudante contra a polícia militar. Contudo, de acordo com vídeo divulgado na internet, a violência foi originada pela própria polícia, com ataques diretos. A repercussão na mídia tradicional se ateve, como esperado, a distorções oriundas de interesses dos próprios veículos de comunicação. Disso, não há surpresas algumas. Porém, no meio dessa avalanche toda de desinformação e desserviço para a comunidade goianiense, ideias que justificam a repressão policial perpetuam no discurso. E estas, em sua maioria, são pautadas devido à ideologia da vítima e sua culpabilização.
Dentre alguns comentários menos extremos, havia a ideia predominante de que o estudante alvo da truculência havia "procurado" a violência acometida a ele. Ou seja, se estava na manifestação, então compreendia a possibilidade de sofrer consequências opressoras advindas de um órgão que deveria proteger - antes de mais nada.
Usam também a ideologia como uma das justificativas, reiterando a violência policial a cargo da manutenção daqueles que rejeitam o posicionamento conservador estruturado no atual estado das coisas. De qualquer forma, é bom deixar elucidado uma questão que deveria ser óbvia: truculência policial não possui parâmetros para ser justificada. Truculência, repressão e autoritarismo são termos autoexplicativos em si.
Tudo o que vem a partir dessa intolerância à democracia é apenas um reflexo. Uma forma que os manifestantes encontraram de se proteger de quem deveria agir em prol da população goiana e, em amplo contexto, da população brasileira. Ideologias políticas que vão contra esse estado das coisas é nada mais nada menos do que uma maneira de resistir à retirada de direitos fundamentais à dignidade humana. Justificativas só legitimam a criminalização das manifestações sociais e a naturalização da violência repressiva da polícia militar.
Em vez de encontrar mirabolantes argumentos para deslegitimar o levante da população, por que não questionamos a militarização da polícia e a forma como ela lida com o conceito de democracia? Não seria mais pertinente do que apontar dedo para quem foi vítima de autoritarismo que é perpetuado cotidianamente como um meio para o fim? Ideologias não devem sobrepor direitos essenciais. E se assim for, podemos largar de mão do que é conhecido como democracia brasileira. Afinal, ela ainda existe? O primeiro passo para a reflexão acertada sobre o assunto é entender que tudo o que vem diretamente da violência policial não passa de respostas. Reflexos. Ações diretas são ações consequentes, não aleatórias em si.
Obrigado pela sua luta, Mateus. Estamos ansiosos para que você se recupere o quanto antes a fim de continuar inspirando outras pessoas a vivenciar o ato de resistir.
Imagens: Bruno Destéfano