Adolescentes por todo mundo participando do jogo da Baleia Azul é mais um sintoma de uma sociedade adoecida que não recebe
os cuidados de que precisa
O “jogo” Baleia Azul, série de 50 desafios cujo objetivo final do jogador é acabar com a própria vida, surgiu de uma notícia falsa – que acabou se tornando realidade – a qual se espalhou a partir da Rússia desde 2015. No jogo, um “curador” repassa as tarefas aos “participantes”, que devem cumpri-las sob a ameaça de terem suas famílias punidas. A tarefa final é o suicídio.
No Brasil, durante o mês de abril, relatos de suicídios e tentativas levaram à abertura de investigações em diversos estados e o Ministério Público emitiu recomendação à Secretaria de Estado de Educação (SEE) para que as instituições de ensino orientem pais e alunos acerca do assunto. O problema é que um dos aspectos mais alarmantes em relação a toda essa polêmica não recebe a atenção que deveria. A existência em si do jogo Baleia Azul já é extremamente preocupante, mas o que estaria levando os jovens a optarem participar de uma "brincadeira" dessas? Que tipo de situação eles estariam enfrentando que torna o suicídio uma alternativa?
Laço amarelo é símbolo do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro)
Segundo pesquisa divulgada em 2014 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mais de 21% dos brasileiros na faixa de idade entre 14 a 25 anos têm sintomas indicativos de depressão. Ainda segundo o mesmo levantamento, quase um em cada dez adolescentes e jovens adultos já pensou, em algum momento, em tirar a própria vida; 5% dos jovens declararam já terem feito alguma tentativa de suicídio. A OMS prevê que, até o ano de 2020, a depressão passe a ser a segunda maior causa de incapacidade e perda de qualidade de vida na população mundial.
Além disso, no caso dos jovens, principais alvos dos “curadores” do jogo Baleia Azul, muitas vezes a doença fica sem diagnóstico e, portanto, não é tratada. A questão é que a depressão ainda é tabu na sociedade e alguns dos seus principais sintomas – como isolamento, irritabilidade, e melancolia – são comumente rotulados como “frescuras” ou “dramas” típicos da adolescência. Assim, a ajuda que esses jovens precisam não é oferecida, o que aumenta a sensação de desesperança e faz com que eles passem a ver o suicídio como única opção para parar de sofrer.
Vale lembrar, também, que a falta de informações corretas sobre a depressão estimula pensamentos preconceituosos acerca daqueles que sofrem com a doença e dificulta o tratamento dos que precisam. Como repercussão ao jogo Baleia Azul, piadas de mau gosto sobre um tema seríssimo como o suicídio se espalharam pelas redes sociais e isso é apenas um dos sinais de que questões envolvendo a saúde mental precisam ser urgentemente repensadas na mentalidade das pessoas. A sociedade está adoecida e necessita de cuidados. Depressão não é frescura, diminuir o sofrimento dos outros não é engraçado e tirar a própria vida não deveria ser visto como opção.
De acordo com o Mapa da Violência de 2014, o suicídio teve um crescimento de 15,3% nos últimos 10 anos e é a terceira maior causa de morte entre os jovens no Brasil, perdendo apenas para homicídios e acidentes de trânsito. O jogo da Baleia Azul é um sintoma da sociedade como ela se encontra: cruel e carecendo imediatamente de mudanças. Levando em consideração toda essa realidade, é imprescindível que se dedique mais atenção ao assunto. É imperativo que as pessoas se preocupem mais umas com as outras; é fundamental que saibamos oferecer ajuda. Não deixe de prestar atenção aos sentimentos dos outros, coloque-se no lugar deles; você pode ser a diferença para alguém que pode estar precisando muito de socorro.
Lembrem-se de que não estamos sozinhos. Se puder, ofereça ajuda. Se precisar, procure ajuda. Nesse sentido, vale lembrar há canais como o Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária e gratuita todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. O serviço funciona 24 horas todos os dias, através do site www.cvv.org.br, pelo telefone no número 141, chat, e-mail ou Skype.
♦ Recomendações do Ministério Público ♦ »» Fique atento a eventuais mudanças de comportamento do jovem «« »» Demonstre interesse pela rotina dele «« »» Adolescentes com a autoestima em baixa são mais vulneráveis «« »» Dialogue e atraia a confiança de seu filho ««
»» Evite que ele fique muito tempo na internet «« »» Deixe o computador em um local comum e visível da casa «« »» Evite expor na internet informações particulares e dados pessoais «« »» Denuncie grupos e comunidades suspeitas ao #MPMG: crimedigital@mpmg.mp.br ««
Saiba um pouco mais sobre a depressão:
Imagem: Flickr