Menos de uma semana antes da Greve Geral, ocorrida nesta sexta-feira (28/04) foi realizada uma pesquisa com estudantes da UFG por meio de plataforma online. Dados apontam que 11,2% dos estudantes afirmam não ter conhecimento do evento. Entre os que afirmam saber, apenas 56,7% têm um conhecimento integral do assunto.
Os universitários que dizem desconhecer, no entanto, declaram ter vontade de informar-se mais, 80,2% demonstram interesse em obter informação. Maioria dos implicados na pesquisa (58,9%) diz que gostaria de participar das manifestações contra as reformas, enquanto 41,1% rejeitam participação.
O principal motivo alegado para não-participação foi a crença de um caráter partidário nas manifestações. Alguns apontam igualmente a falta de tempo e a recusa em paralisar por parte de empregadores ou lugares de estudo.
Vendo a existência desse desconhecimento dos motivos, precisa-se falar sobre a oposição às reformas propostas pelo governo Temer (Reforma Trabalhista e Reforma da Previdência). Esse é o verdadeiro caráter das manifestações ocorridas e da paralisação de certas atividades. Tais como a dos bancários,de instituições de ensino federais e transporte público.
Em Goiás, entre as centrais sindicais envolvidas estavam o Sindicato dos Trabalhadores em Instituições Tecnológicas Federais – Goiás (Sintef-GO), Associação dos Docentes da UFG (Adufg), Sindicato dos Bancários de Goiás e Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde (Sindsaúde). Frentes/Movimentos sociais urbanos, rurais, autônomos e estudantis também mobilizaram-se contra as reformas, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Frente Antifascista Goiânia.
Segundo a pedagoga Mariana Leles um dos pontos mais polêmicos da Reforma Trabalhista para a categoria é a flexibilização da relação patrão-empregado. Para ela isso resultará em mais poder aos patrões e menos aos funcionários. “Parcelamento de férias? Diminuição do horário de almoço? Jornada de 12h? Como isso pode ser bom para o trabalhador?” complementa.
Quanto à Reforma da Previdência as críticas principais tanto de Mariana quanto de outros companheiros da profissão são a exigência de 40 anos de contribuição por parte do trabalhador e idade igualitária para aposentadoria de homens e mulheres Medidas que visam o trabalhador pagar uma conta pela qual ele não é responsável.
Vale lembrar que o governador do estado, Marconi Perillo, deixa bem evidente sua posição em relação às reformas mencionadas. Em reunião com Temer, com os presidentes da Câmara, do Senado e alguns ministros já havia citado a Reforma da Previdência como “fundamental” para a retomada do crescimento econômico no país.
Durante as manifestações
Apesar do corte de ponto dos participantes, ameaçado pelo Presidente da República, a paralisação do transporte público deu fomento às mobilizações. As reuniões começaram por volta de 8h da manhã, distribuindo-se em três concentrações iniciais, Assembléia Legislativa de Goiás, Praça Cívica e CEPAL (Setor Sul).
Segundo o repórter Bruno Destéfano, o qual situou-se frente à Assembleia no início da concentração do ato, diversos profissionais da área de segurança pública estavam presentes para acompanhar o movimento. Esse fator gerou insegurança perante a repressão policial anterior ocorrida na Secretaria Municipal de Educação e Esporte de Goiás, de onde professores foram retirados com balas de borracha e outras agressões físicas.
Os manifestantes portavam cartazes, apitos, bandeiras de movimentos sociais, partidos mais populares e circulava também um carro de som microfonado. O estudante de psicologia da UFG Haney conta que acredita na repercussão positiva das manifestações, mas ressalta que a melhora das atuais condições sociais é um processo. “Hoje não basta. É uma ‘escadinha’ estamos em um dos primeiros degraus, temos muito o que construir ainda.”
O manifesto matutino ocorreu em sua maioria pacificamente, com poucas discordâncias entre policiais e alguns integrantes do protesto. No início da tarde, porém, esse cenário mudou quando, de acordo com relatos de manifestantes a polícia começou a agredir o resto da coletividade que seguia rumo a Praça dos Bandeirantes, com balas de borracha, bombas de efeito moral e cacetetes. Um dos participantes, o estudante de Ciências Sociais da UFG, Mateus Ferreira, foi atingido por um cacetete na cabeça e precisou ser hospitalizado com traumatismo craniano e múltiplas fraturas no rosto.
Fez-se então um cerco de policiais e ocorreu a chegada da cavalaria. Por causa disso os manifestantes optaram pelo recuo até à praça universitária.
Repercussões
Manifestantes que preferiram o anonimato, afirmam não concordar com a abordagem midiática feita pelas grandes emissoras goianas. “Temos várias imagens e na mídia foi noticiado muito diferente. Disseram que ‘mascarados’ iniciaram a confusão. Na verdade quem começou jogando bomba foi a polícia, depois virou um corre-corre e acertaram vários manifestantes com porrete e cacetetes. Inclusive um está no hospital em estado grave".
No momento, o estudante atingido encontra-se internado, sedado e intubado, na UTI do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). A família do rapaz mora em Osasco e é esperada nesta tarde do dia 29, enquanto isso, amigos acompanham-no.
A UFG liberou nota de repúdio ao ocorrido por meio de seu site oficial. Nela constam os seguintes dizeres “A UFG é histórica defensora do direito à livre manifestação e condena com veemência atos de repressão que venham a cercear esse princípio democrático”.
O reitor da instituição promete cobrar da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária uma apuração mais detalhada dos fatos, além da culpabilização e punição de responsáveis pelo dano a Mateus Ferreira.
A agressão física a discentes e docentes não foi a única reclamação. Estudantes da UFG também reclamam de como foram apresentados nas matérias. Para eles, foram retratados como “baderneiros” que só participam de movimentos para desvincular o caráter político. O que legalmente consta como ato de difamação, podendo caber indenização por danos morais ou em casos de prejuízo material decorrente, por danos materiais.
Apesar de todos esses desapontamentos, ficam igualmente boas impressões por parte dos presentes nas mobilizações. Um dos estudantes participantes declarou “Foi a primeira Greve Geral dos goianos, e por isso é muito importante. O que vimos hoje [na última sexta-feira] é que o povo goiano é capaz de organizar para mobilizar-se”.
Fica o legado da pré-disposição para manifestações sempre que forem tomadas medidas anti-povo.
Imagens: Bruno Destéfano