Quem nunca recebeu aquela notícia polêmica no grupo de família do Whatsapp? Ou ficou chocado com manchetes compartilhadas por amigos no Facebook, como “Mulher com quatro pernas”? Diferentemente da página Sensacionalista que se mostra claramente um site de humor, que trabalha com notícias fictícias, existem sites que intencionalmente publicam notícias falsas, que chamaremos aqui de Fake News (ou pós-verdade).
Na definição do portal Café Brasil, Fake News é um termo que designa os sites e blogs que publicam intencionalmente notícias falsas, imprecisas ou simplesmente manipuladas, com a intenção de ajudar ou combater algum alvo, normalmente político. Algumas vezes esses sites copiam notícias verdadeiras – ou parte dessas notícias – de outros veículos, mas mudam as manchetes, alterando o sentido ou colocando algo sensacionalista para atrair leitores.
De acordo com pesquisas da Universidade de Oxford, publicadas no jornal Nexo, as mídias sociais como o Facebook, Twitter e Whatsapp tendem a facilitar a replicação de boatos e mentiras. Uma característica comum e predominante das notícias falsas é que elas são compartilhadas por conhecidos nos quais os usuários tem confiança, o que aumenta a aparência de legitimidade das histórias. Os algoritmos usados pelo Facebook fazem com que os usuários tendam a receber informações que estão em afinidade com seu ponto de vista, formando bolhas que isolam as narrativas e argumentos que mais se conformam com posicionamentos de esquerda ou direita.
Esse cenário tem apresentado obstáculos na disputa de espaço nas mídias sociais para a imprensa, que via de regra tem a responsabilidade de produzir notícias com base em fatos checados e construir narrativas baseadas na realidade. Uma vez que desde junho de 2016, em reportagem da página Meio&Mensagem, o Facebook alterou seu algoritmo do feed de notícias, priorizando postagens e compartilhamentos feitos por amigos e familiares em detrimento do conteúdo de páginas que o usuário curtiu. Junto com esse fator, a imprensa que tem o cuidado em apurar os fatos que noticia tem competido por espaço contra um grande leque de veículos de informações falsas.
Mercado de pós-verdade
Os lucros dos sites provêm da venda de anúncios, ou seja, quanto maior a audiência da página, mais ela ganhará com publicidade. De acordo com a página da UOL, a venda de publicidade costuma ser feita por agências especializadas ou via ferramentas como o Google AdSense, que seguem a lógica de um leilão: o site diz o preço mínimo que pretende receber por anúncio e qual modalidade prefere, sendo as mais comuns CPM (custo por mil impressões, que considera o número de visualizações) e CPC (custo por clique, em que o pagamento é calculado em cima de quantas vezes o anúncio foi clicado).
Os anunciantes definem apenas o perfil de público que querem alcançar, mas não tem controle sobre os sites onde a propaganda será veiculada e para eles o principal é o fluxo de audiência dos sites. No caso dos sites de notícias, não costuma haver verificação sobre a credibilidade do veículo ou a qualidade da reportagem, por isso é comum ver manchetes sensacionalista ou até mesmo absurdas, uma vez que “o click” ou a visualização são o principal foco dessas páginas, não o conteúdo das notícias em si.
Características comuns das Fake News
Segundo a página Isso é notícia, todos os principais sites que se encaixam no conceito de "pós-verdade" no Brasil possuem algumas características em comum:
1. São sites registrados com domínio. com ou .org (sem o .br no final), o que dificulta a identificação de seus responsáveis com a mesma transparência que os domínios registados no Brasil;
2. Não possuem qualquer página identificando seus administradores, corpo editorial ou jornalistas e quando existe, a página 'Quem Somos' não diz nada que permita identificar as pessoas responsáveis pelo site e seu conteúdo;
3. As "notícias" não são assinadas;
4. As "notícias" são cheias de opiniões — cujos autores também não são identificados — e discursos de ódio (haters);
5. Intensiva publicação de novas "notícias" a cada poucos minutos ou horas;
6. Possuem nomes parecidos com os de outros sites jornalísticos ou blogs autorais já bastante difundidos;
7. Seus layouts deliberadamente poluídos e confusos fazem-lhes parecer grandes sites de notícias, o que lhes confere credibilidade para usuários mais leigos;
8. São repletas de propagandas (ads do Google), o que significa que a cada nova visualização o dono do site recebe alguns centavos (estamos falando de páginas cujos conteúdos são compartilhados dezenas ou centenas de milhares de vezes por dia no Facebook);
A seguir os sites produtores de "pós-verdades" compartilhados nas timelines dos brasileiros são:
Ceticismo Político: http://www.ceticismopolitico.com/
Click Política: http://clickpolitica.com.br/
Correio do Poder: http://www.correiodopoder.com/
Crítica Política: http://www.criticapolitica.org/
Diário do Brasil: http://www.diariodobrasil.org/
Folha do Povo: http://www.folhadopovo.com/
Folha Política: http://www.folhapolitica.org/
Gazeta Social: http://www.gazetasocial.com/
Implicante: http://www.implicante.org/
JornaLivre: https://jornalivre.com/
PassaPalavra: http://www.passapalavra.info/
Pensa Brasil: https://pensabrasil.com/
Política na Rede: http://www.politicanarede.com/
Pragmatismo Político: http://www.pragmatismopolitico.com.br/
Rádio Vox: http://radiovox.org/
Rede de Informações Anarquista: https://redeinfoa.noblogs.org/
Revolta Brasil: http://www.revoltabrasil.com.br/
O que fazer para se prevenir das armadilhas das Fake News
O escritor Luciano Pires, da página Café Brasil, criou a Teoria dos Quatro Rês, cujo enunciado é: “Notícias sem relevância; passadas por gente que não tem responsabilidade; aceitas por todos sem reserva, obtém ressonância desproporcional. “Ele recomenda aos leitores, que à primeira leitura de uma notícia, deve-se buscar mentalmente passar essas informações por um filtro que, segundo Pires, tem 4 palavras começadas por “RÊ”.
A primeira é a Relevância: que importância tem essa notícia ou fato para mim, minha comunidade, meus amigos, meu país, o mundo? Em seguida a Responsabilidade: quem é a fonte dessa informação? Que responsabilidade tem quem a está passando para mim? Que autoridade ou credibilidade tem essa fonte, para que eu nela acredite? A Reserva: com que cuidados devo receber essa notícia? Que tipo de precaução devo tomar antes de acreditar e sair agindo? E por fim a Ressonância: como devo disseminar essa notícia? Que tipo de amplitude devo dar a ela?
Pires ressalta que no caso das “fake news” o mais importante é o item 2: a Responsabilidade. Quem é a fonte dessa informação? Que responsabilidade tem quem a está passando para mim? Que autoridade ou credibilidade tem essa fonte, para que eu nela acredite? É crucial observar quem está por trás do site ou blog, que linha de pensamento que o site defende, quem são seus patrocinadores, que interesses eles ocultam, qual o histórico das pessoas que produzem o que ali é veiculado. Uma pequena investigação como essa derruba imediatamente 95% do que se vê e lê por aí.
Imagens: BBC e Morning Consult