Há 30 anos, Goiânia esteve nos noticiários do mundo todo devido o acidente com o Césio-137.
O desastre começou no dia treze de setembro de 1987, e é considerado, até hoje, o maior acidente radiológico em área urbana do mundo. Na época fez centenas de vítimas, todas contaminadas pela radiação emitida de uma única cápsula que continha Césio-137.
A tragédia teve início quando catadores de material reciclável encontraram um aparelho utilizado em radioterapias dentro de uma clínica abandonada. Acreditando que se tratava de sucata, desmontaram o aparelho e venderam suas partes para um depósito de ferro-velho, o que desencadeou o rastro de contaminação.
A substância que estava dentro da peça, era um pó que em ambientes escuros apresentava um brilho de coloração azul, o que encantou a todos que tiveram contato no primeiro momento. Durante vários dias o material foi exibido pelo senhor Devair Alves Ferreira, proprietário do ferro-velho que desmontou o aparelho, para amigos e familiares.
Logo começaram a surgir as primeiras vítimas contaminadas. Vômitos, náusea e diarreia eram os sintomas mais imediatos.
Porém, as vítimas eram tratadas como portadoras de uma doença contagiosa. Médicos e autoridades não tinham ideia do que estava acontecendo. No dia 29 de setembro, a esposa de Seu Devair leva a peça até a vigilância sanitária, quando se constata a radioatividade do material e se inicia uma série de ações para combater os efeitos do césio.
Naquele período, Goiânia sediava o GP internacional de motovelocidade. O Governo, para não assustar estrangeiros e patrocinadores, esconde as verdadeiras informações da população. Contudo, rapidamente não tem mais o que se esconder. Casas foram esvaziadas enquanto medidas extremas eram tomadas, no sentido de isolar a contaminação. Centenas de pessoas, aglomeradas no Estádio Olímpico Pedro Ludovico, submeteram-se a exames para detectar se estavam infectadas.
A retirada do material contaminado juntou mais de 6 mil toneladas de dejetos Roupas, móveis, artigos de construção e até restos de animais formam o volume de lixo radioativo. Tudo foi armazenado em contêineres de aço e concreto e enterrados em um depósito na cidade de Abadia de Goiás, onde deve ficar por, aproximadamente, 180 anos.
A menina Leide das Neves e a esposa de Seu Devair, Maria Gabriela, foram as primeiras vítimas fatais. Porém outras vieram a falecer no decorrer do tempo, devido complicações adquiridas.
Em 1996 a Justiça chegou a condenar três antigos sócios do Instituto Goiano De Radioterapia, proprietários do aparelho abandonado, por homicídio culposo. Todavia, a condenação de três anos e dois meses de prisão foi revertida em prestação de serviços.
A região afetada pela radiação, no Setor Aeroporto, chegou a ser completamente abandonada. Apenas no fim da década de 1990 é que inicia um processo de revitalização. Destaque para o papel que o Mercado Popular cumpriu para este objetivo.
As vítimas do acidente denunciam constantemente o abandono do Governo. Reclamam da falta de políticas públicas voltadas para o atendimento médico e distribuição de remédios. Atualmente, estas pessoas se organizam a partir da Associação de Vítimas Contaminadas por Césio-137. A organização luta para manter os tratamentos e diminuir o preconceito existente.
O acidente radiológico com o Césio-137 é, definitivamente, página marcante da história da nossa capital. Apesar da tentativa do Governo de que este episódio caia no esquecimento, a cultura popular não se omite de falar sobre o mesmo.
Filmes, livros, documentários, histórias em quadrinhos e músicas foram produzidas para denunciar, refletir e lembrar as vítimas desta tragédia, para que acidentes como este nunca mais aconteçam, seja por negligência seja por falta de informação.
Imagens: Caliandra do Cerrado e G1.com