Invisível e asfixiante, o gás letal, sarín, ocasionou a morte de 86 pessoas e feriu mais de 500, na cidade de Khan Shekhun, no sul da província de Idlib no norte da Síria, na última terça-feira, dia 4 de abril. O alvo do ataque químico foi uma das regiões controladas, em sua maioria, pela aliança firmada entre rebeldes e jihadistas, contrários ao governo de Bashar Al Assad, presidente sírio. O ataque é atribuído a Al Assad, porém, o governo americano investiga a possível participação da Rússia neste bombardeio químico.
O departamento de saúde do governo oposicionista sírio revelou que dentre os 86 mortos, 27 eram menores de idade. O número de feridos é de 546. Para eles, este é o pior ataque químico sofrido na Síria desde 2013.
Sorrateiro, o bombardeio químico foi executado enquanto civis dormiam. No silêncio da noite, um estrondo anunciou a chegada da dor e da morte que submeteu crianças, jovens e adultos à momentos de agonia e horror.
O gás utilizado no bombardeio, Sarín, foi desenvolvido na Alemanha e integrou o armamento químico utilizado na Segunda Guerra Mundial. As vítimas que inalam esse agente químico venenoso sofrem asfixia, desmaios, vômitos e apresentam espuma na boca.
Em menos de dois dias, os sobreviventes enterraram seus mortos e deixaram a cidade. Khan Shekhun agora é uma cidade fantasma. A maioria dos 75 mil habitantes fugiu para povoados vizinhos, devido o pavor de sofrer novos ataques.
Em 2013, a Síria validou convenção sobre a proibição de armas químicas. Todavia, é acusada por ter violado a convenção, pois, poucos dias após denúncia de ataque químico na Província de Hama, em que membros do Médicos sem Fronteiras divulgaram o ferimento de aproximadamente 50 pessoas, o bombardeio foi feito.
Tanto o Comando Geral do exército sírio quanto o Ministério de Defesa russo negam ter efetuado qualquer ataque aéreo na região. Além disso, afirmaram por meio de comunicado oficial, que não usaram e nem vão usar armamento químico.
Os efeitos políticos dessa fatídica ação também coincidem com a conferência em Bruxelas, onde se reúnem mais de 70 delegações internacionais de apoio à Síria. A maioria condenara o uso de armas químicas por parte do regime sírio e, em particular, dos terroristas do estado islâmico.
Em entrevista coletiva, a representante da união europeia para política externa, Federica Mogherini declarou que o uso de armas químicas deve parar imediatamente. O titular alemão das relações exteriores, Sigmar Gabriel, afirmou que a Rússia é quem deve esclarecer o ocorrido.
No jogo entre panos quentes e acusações, os civis continuam sendo os mais atingidos. Isso porque, o bombardeio despertou atitudes enérgicas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Antes mesmo de colocar o próprio país em ordem e aprovar a reforma da saúde, por exemplo, Trump se ocupa de afazeres internacionais.
Na quinta-feira, dia 6 de abril, o presidente dos Estados Unidos anunciou ataque aéreo a base de Al Shayrat, a segunda mais importante das forças aéreas sírias. 59 mísseis tomahawk foram lançados. O ataque deixou 16 mortos, quatro dessas vítimas eram crianças que residiam em povoados periféricos da base militar. Trump assumiu que a ação foi uma resposta ao ataque químico, o que ele classificou como bárbaro assassinato de pessoas. Terá Trump também assumido a responsabilidade direta pela morte de 16 pessoas?
O governador de Homs, Talal Barazi declarou que o ataque dos Estados Unidos destruiu completamente a base militar. Porém, em seu discurso, reduziu os danos anunciando que tudo será reconstruído em breve. Ademais, comentou que a intervenção norte americana contribui com objetivos de grupos terroristas armados e de Israel, mas reafirmou que a política da Síria vai continuar inalterada.
Em busca de redimir as almas das vítimas do bombardeio químico, Trump, além de assassinar 16 pessoas, causou desconforto e fragilizou sua relação com a Rússia.
O governo de Washington e o pentágono garantem ter comunicado a Rússia e efetuado o ataque de forma planejada, a fim de reduzir riscos para o pessoal russo e sírio do local. Porém, a Rússia convocou reunião com o conselho de segurança das nações unidas e anunciou danos significativos nas relações entre Moscovo e Washington.
Para o Kremlin, a agressão delegada por Donald Trump, se fundamentou em um pretexto inventado, fantasioso. O governo russo insiste que o exército sírio não utiliza armas químicas.
O chefe do Comitê das Relações Exteriores do Conselho da Federação, Konstantin Kosachev, manifestou dúvidas sobre colaboração entre Rússia e Estados Unidos após o ataque de Trump. Sobre o assunto ele teme, “que a desejada coalização russo-americana contra o terrorismo possa morrer sem ter nascido”.
Além disso, a Rússia acusa o governo dos Estados Unidos por não compreender o que está evidente e ter ignorado o uso de armas químicas pelos terroristas do Iraque. Se o ataque norte-americano levanta críticas por parte da Rússia, em solo pátrio, recebe elogios. Na noite da quinta-feira, Trump recebeu cumprimentos de legisladores republicanos e democratas que entenderam que ação foi uma resposta proporcional ao ataque com armas químicas.
A ex-candidata à presidência, Hillary Clinton criticou a postura do ex-presidente Obama e declarou, momentos antes do anúncio de Trump, que os Estados Unidos deveria ter sido mais agressivo com o regime de Assad. Essa foi a primeira vez em que Trump recebeu forte apoio dentro do país. Porém, pode, ao invés de frear o terrorismo, estimulá-lo. A Conferência de Bruxelas demonstra preocupação de novos ataques com armas químicas e destaca o comunicado de genebra, firmado em 2012, em que diz, “só uma transição política genuína e inclusiva dará fim ao conflito”.
Imagem/Reprodução: Uol / Marinha Norte-Americana
El País