Em março de 2017 estamos comemorando os 100 anos da Revolução Russa, um período de conflitos políticos que derrubaram a autocracia russa em 1917.
Na época, a Rússia se encontrava recém-industrializada e sofrendo com a Primeira Guerra Mundial. O país tinha uma grande massa de operários e camponeses trabalhando muito e ganhando pouco. Além disso, o governo absolutista do Czar Nicolau II desagradava o povo, que queria uma liderança menos opressiva e mais democrática.
A soma dos fatores causou manifestações populares que fizeram o monarca renunciar. O partido bolchevique, de Vladimir Lênin, então, sobe ao poder. No fim do processo, surge a União Soviética, o primeiro país socialista do mundo.
A Revolução Russa se divide em duas partes. A primeira é conhecida como “Revolução Branca”. Em 8 de março de 1917, uma série de passeatas ocorreram em Petrogrado, pelo Dia Internacional da Mulher. Nos dias seguintes, a agitação aumentou. As manifestações ganharam adesão das tropas encarregadas de manter a ordem pública, que se recusavam a atacar os manifestantes.
Formaram dois comitês. Um de deputados moderados da duma, que se tornaria o governo provisório. O outro era o soviete de Petrogrado, formado por trabalhadores, soldados e militantes socialistas de várias correntes. Temendo uma repetição do domingo sangrento, as tropas do palácio de inverno não se opuseram à insurreição e se retiraram. Logo em seguida Nicolau II assinou sua abdicação.
Após a derrubada do Czar, instalou-se o governo provisório de caráter liberal burguês. Enquanto isso, o soviete de Petrogrado reivindicava para si a legitimidade para governar. Os sovietes queriam dar terra aos camponeses, um exército com disciplina voluntária e oficiais eleitos democraticamente, além do fim da guerra. Com ajuda alemã, Lênin volta à Rússia, pregando a formação de uma República dos Sovietes, bem como a nacionalização dos bancos e da propriedade privada. Seu principal lema era: todo o poder aos sovietes.
A segunda fase da Revolução Russa, conhecida como “Revolução Vermelha”, teve início em novembro de 1917. Tinha como exigências a saída da guerra, o fim da carestia e a reforma agrária. Os bolcheviques, liderados por Lênin, com a ajuda de elementos anarquistas e socialistas revolucionários, cercaram a capital. Muitos foram presos.
E foi numa sessão extraordinária que o soviete de Petrogrado dissolveu a antiga assembleia constituinte. Os membros do governo provisório tentaram deslegitimar os bolcheviques, mas eles predominaram na maior parte das províncias de etnia russa.
Lênin defendia os sovietes como uma forma de democracia superior à assembleia constituinte. Durante este período, o governo bolchevique tomou uma série de medidas de impacto. Por exemplo, o pedido de paz imediata pela retirada das tropas russas da guerra, o confisco de propriedades privadas para serem distribuídas entre o povo, a declaração do direito nacional dos povos e a nacionalização de diversas empresas.
Em uma democracia burguesa, as massas votam a cada quatro ou cinco anos. O representante eleito faz o que quer até as próximas eleições. Na República Soviética, os trabalhadores debatiam cotidianamente os assuntos de Estado e elegiam seus representantes, que podiam ser revogados a qualquer momento.
Os representantes eram eleitos diretamente. Todos podiam eleger e ser eleitos. Existia plena liberdade para os partidos presentes nos sovietes. O poder dos sovietes era global e direto. Os conselhos discutiam, decidiam e aplicavam diretamente suas resoluções.
Isso nada tem a ver com a democracia burguesa, que é na verdade uma ditadura do capital. A burguesia controla as grandes empresas e pode financiar as campanhas. A burguesia controla os meios de comunicação e pode influenciar a opinião pública. O povo vota, mas não decide nada. Muda o governante para manter o mesmo governo. Ganhe quem ganhar, a burguesia é vitoriosa.
Na Revolução Russa, os recursos do país foram postos à disposição dos trabalhadores. O que pesava na discussão era a força das ideias e não do capital. O controle dos representantes de locais de trabalho e moradia era a maior expressão dessa democracia operária.
Pela primeira vez a classe operária tomou e exerceu o poder. Ocorreu, nos anos da Revolução Russa, uma reorganização política revolucionária do proletariado nunca mais vista na história. Tratava-se de uma experiência inédita. A Revolução Russa foi também a demonstração histórica de que só dando poder ao povo é que se pode derrotar radicalmente as opressões.
A luta das mulheres, por exemplo, teve um avanço com o direito ao divórcio, ao aborto e à igualdade salarial. Todas as leis homofóbicas foram abolidas junto com a legislação czarista. A opressão sobre as nacionalidades da Rússia czarista transformou-se em uma união livre, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Mesmo nas condições de guerra civil, o socialismo russo foi o regime mais democrático para a classe operária e para o povo que a história já conheceu. Essa é a verdade histórica, que foi suprimida da memória dos trabalhadores de todo o mundo.
Imagens: 1 - Marcelo Mundim - https://www.behance.net/gallery/16906981/Cartaz-A3-Construtivismo-Russo
2 - http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/amor-livre-e-emancipacao-na-revolucao-russa/