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Vida longa ao Rock'n' Roll

Com mais de seis décadas de vida, o Rock’n’Roll desfruta do status de música mais influente na cultura pop. Contudo, nem sempre a história foi tão cheia de fama e dinheiro. O tão conhecido ethos roqueiro de rebeldia, que a indústria do entretenimento quase sempre consegue banalizar, surge, de fato, com a origem desta música. Esta origem aponta para raízes negras, proletárias e marginais.

No início dos anos de 1950 a sociedade estadunidense passava por um intenso processo de reestruturação. O fim da segunda guerra mundial e a superação da grave crise econômica da década de 1930 dava nova roupagem para o sonho americano. É neste contexto que a música amargurada dos afrodescendentes que trabalhavam nos campos, o blues, chega às grandes cidades. O fluxo migratório destes trabalhadores para os centros urbanos, faz com que o blues receba forte influência do cotidiano das metrópoles.

A musicalidade negra era vibrante e criativa. Em templos religiosos o gospel explorava todas as possibilidades do canto, os conjuntos de jazz começavam a eletrificar seus instrumentos e toda esta efervescência já era notada por um número cada vez maior de admiradores. A ascensão do Rhythm & Blues, gênero mais pesado e totalmente urbano, derivado dos antigos blues rurais é, para muitos, o verdadeiro início do rock and roll. Entretanto, para que o novo estilo se consolidasse foi preciso a fusão com a música branca, o country, música rural nos estados unidos.

Artistas como Johnny Cash, Bill Halley e Roy Orbinson, tradicionalmente músicos de country, passam a incorporar elementos do ritmo alucinante criado e difundido por Chuck Berry, Bo Diddley, dentre outros negros do blues. Vários programas de rádio começaram a tocar este novo ritmo. Foi em um destes programas que o Dj Alan Freed forjou o nome “Rock And Roll” para se referir a esta nova música rebelde e agressiva.

A partir daí a juventude passou a encarar o rock como um instrumento para extravasar contestação e inconformismo. Quando Bill Halley e seus cometas lançaram a música Rock Around The Clock, trilha sonora do filme “Sementes da violência”, pais e autoridades perceberam que não se tratava de um simples modismo. Logo artistas seminais do rock tomam o topo das paradas. Little Richard, negro e homossexual assumido, dono de uma das mais potentes vozes da década de 1950; Chuck Berry, ex-trombadinha, apontado como o verdadeiro “pai” do rock e influenciador de tudo que veio depois. Mesmo Elvis Presley, considerado o rei, era motorista de caminhão, o que demonstra que pertencia à classe trabalhadora. Apesar do talento inquestionável, o título de rei pode ter sido atribuído graças à pele branca, o que ofendia menos a opinião pública de então.

Depois disso, a geração que cresceu com o Rock and Roll vai se juntar para questionar todos os parâmetros da sociedade estadunidense. É da contracultura roqueira que brotam muitos dos elementos de luta por direitos civis que, nas décadas seguintes, impulsionaram potentes mudanças sociais.Se hoje o rock já ultrapassou todas as fronteiras, criando legiões de seguidores e uma indústria altamente lucrativa, ainda deve reverência aos pioneiros e desbravadores desta cultura.

Este “você sabia” não poderia terminar sem prestar homenagem a um destes pioneiros: Chuck Berry. Ex-morador de rua, delinquente juvenil com extensa ficha criminal e um dos maiores gênios da guitarra em todos os tempos. Apontado por gente como Beatles, Elvis Presley, AC/DC e Jimi Hendrix como o criador do Rock and Roll, Chuck faleceu no último 18 de março, aos 90 anos. Foi se juntar a tantos outros nomes no paraíso dos roqueiros.

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