Semana passada, em discurso realizado especialmente para uma cerimônia em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, o presidente em exercício, Michel Temer, ofereceu a mais clara prova de que o Brasil ainda tem muito o que evoluir quando a questão é a igualdade de gênero. Durante sua fala, Temer qualificou as mulheres como “astutas seguidoras do orçamento doméstico, capazes de notar as flutuações de preços”. Além de ressaltar, também, a suposta obrigação delas de cuidar dos afazeres domésticos e promover a educação dos filhos.
O problema desse episódio é que não se trata apenas de uma gafe isolada, claramente marcada por um pensamento que já seria ultrapassado há 50 anos. Em uma realidade em que a presidência da república conta com um gabinete exclusivamente masculino; a diferença salarial entre os gêneros ainda é de 30% e a violência doméstica é responsável pela morte de cinco mulheres por hora no mundo, uma fala pública de um presidente da república, de caráter extremamente machista, causa danos sérios.
A essência do ser humano é comunicativa, então, é indiscutível a importância das palavras. Ainda assim, muitas vezes o poder destrutivo delas é ignorado e o potencial impacto de discursos desastrosos, desconsiderado.
A mensagem, vinda da maior autoridade do país, dificulta a luta de inúmeros movimentos feministas, prejudica o avanço de políticas públicas para a inserção da mulher no mercado de trabalho e estimula pensamentos misóginos altamente perigosos. Trata-se de muito mais que um simples erro, é uma forma de legitimar a violência verbal e física contra as mulheres.
A luta contra o machismo na sociedade é constante e discursos como o do presidente Temer são prejudiciais ao esforço diário de inúmeras mulheres. É preciso combater a misoginia não apenas nos atos, mas também nas palavras. Muitas vezes, é através delas que o machismo encontra formas devastadoras de se propagar.