Moonlight: Sob a Luz do Luar, o vencedor do Oscar 2017, surpreendeu e superou La La Land, recordista de indicações. O longa teve o menor dos orçamentos entre os vencedores do prêmio nos últimos 50 anos, mas não se destaca apenas por isso; trata-se de um filme que foge dos padrões do drama que estamos acostumados a ver por aí, não apela para a tristeza, nem ridiculariza as misérias.
A história gira em torno de Chiron, um menino afro-americano que vive nos subúrbios de miami. A trama é dividida em três partes, cada uma delas intitulada com um apelido do menino. A primeira, Little, o introduz na sua infância, em que ele é criado apenas pela mãe, viciada em drogas, e cresce sem sentir apreço pela figura materna. “Chiron” é o nome da segunda parte, na qual a juventude tímida e triste do menino é retratada de forma que nos toca profundamente. O personagem jovem tem que lidar com a sua sexualidade, e sofre por isso. Ele esconde ser homossexual em meio às afrontas que recebe no colégio. A terceira parte, denominada Black, mostra Chiron adulto, depois de passar pela prisão, se envolve com o mundo do tráfico e nele, também, se esconde.
Quem assiste ao filme sem um olhar crítico, pode se sentir perdido, pois é preciso mais do que apenas sentar e deixar as quase duas horas de filme se passarem, afinal, em nenhum momento há um clímax que traga emoção. Moonlight é um filme leve, mas que levanta inúmeros assuntos densos. Abandono parental, homossexualidade, racismo e drogas são os principais. Portanto, a emoção fica por conta do crescimento de Chiron e como ele lida com o mundo.
O diretor, Barry Jenkins, escolheu priorizar o corpo e suas demonstrações. As transformações físicas de Chiron, por exemplo, significam muito mais do que os poucos diálogos que o filme apresenta. Aliás, desde que aparece, os olhos de Chiron falam muito mais que a sua boca.
Enquanto criança, o personagem encontra a figura paterna de sua vida em Juan, um traficante do bairro. Ele e sua esposa são os únicos que oferecem afeto e amor ao menino. Já Kevin, seu melhor amigo, parece ser aquele que entende Chiron em suas diferenças. É ele quem o apelida de Black.
Quando jovens, os dois se envolvem sexualmente, mas nunca falam sobre isso, ficam afastados depois que Chiron é preso e só se reencontram na vida adulta. Kevin tem seu próprio restaurante e fica indignado ao saber da vida que Chiron leva. Ele se indigna porque sabe que não era aquilo que o amigo desejava para si, pois agora trabalhava abastecendo o mal que destruiu sua mãe.
Quando chega na vida adulta, Chiron parece ter tudo e não ter nada ao mesmo tempo. Conseguiu os bens materiais por meio do tráfico, mas nunca teve um amor, nunca recebeu carinho, nunca mais foi tocado. A falta de ter alguém por ele é o que lhe corrói. Ao rever Kevin, todos os sentimentos guardados afloram... o toque do amigo, o prazer que sentiu apenas uma vez. Este é um dos raros momentos do filme em que ele sorri, sorriso que dura pouco, tomado pela sua própria mãe.
Moonlight com certeza não é um filme feliz, mas as reflexões que trazem consigo são muitíssimo válidas. Quando é que paramos para pensar no carinho e atenção que deixamos de dar? Para nossos amigos, familiares... Todo ser humano precisa disso. E o vencedor do Oscar 2017 nos chama a atenção para isso. A alteridade, o olhar para fora de si.
Acompanhar o desenvolvimento de Chiron durante o filme nos leva a uma conclusão. Ao final, quando ele finalmente descansa em um abraço de seu amigo é que percebemos do que se trata. Chiron só precisava ser abraçado para sentir paz novamente. Todos os problemas que teve na vida teriam sido bem menores caso ele tivesse alguém segurando em sua mão.
A luz da lua com a qual esse filme nos ilumina, mostra que somos todos iguais. Ele nos revela, com uma brutalidade delicada, a urgência de olhar o outro com empatia, a necessidade de acalmar os gritos que soltamos no silêncio. O tempo todo, Chiron gritou por ajuda e ninguém o escutou. Apenas porque ele não falava nada.