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Impunidade de homens e a naturalização da Violência Contra a Mulher


O goleiro Bruno Fernandes, condenado a 22 anos e três meses de prisão em regime fechado por matar a ex-namorada, Eliza Samudio, em 2010, deixou a prisão em Santa Luzia no dia 24 de Fevereiro deste ano. A soltura foi determinada pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, em decisão provisória. O goleiro aguarda julgamento de recursos pós-condenação.

Após ser solto, Bruno acertou contrato com o time mineiro, Boa Esporte, na última sexta-feira, 10 de março. A contratação dele pelo clube rendeu comoção nas mídias socias. Segundo o Portal Uai, e em entrevista exclusiva aos canais da ESPN, Bruno falou sobre seu retorno ao futebol e também da repercução negativa do acerto dele com o clube do Sul de Minas. Entretanto, nada disse sobre sua condenação pela morte de Eliza Samudio. Na entrevista, Bruno alegou estar pronto para suportar qualquer tipo de pressão e rejeição. Declarou que não é bandido, e que apenas cometeu um erro grave, ele deseja uma oportunidade para seguir com o sonho de uma carreira no futebol.

Em entrevista ao G1, o Ministro Marco Aurélio Mello disse que Bruno é Réu Primário e tem bons antecedentes, além de declarar que o clamor social não deve ser colocado na frente das garantias individuais do goleiro. O Ministro acrescentou que Bruno está preso a mais de seis anos sem culpa definitiva formada. No jornal Estado de Minas, foi noticiado que o grupo Góis & Silva rompeu seu contrato de patrocínio com o Boa Esporte por causa da contratação do goleiro Bruno. A empresa sofreu uma pressão pela população para que ocorra o rompimento do contrato com o time.

Da mesma maneira, outras empresas que tinham parceria com o clube desfizeram seus contratos, como a Nutrends, uma empresa do ramo de alimentos, a CardioCenter, uma clínica de cardiologia, e a Magsul, uma clínica de ressonância magnética.

Em conversa com o jornal Estado Minas, Rafael Góis, o executivo da Góis & Silva, contou os motivos que levaram ao rompimento do patrocínio. Ele declarou que todos os meios de comunicação da empresa, os perfis de Facebook e outras mídias sociais foram superlotadas pela opinião pública, com pedidos para que a empresa revesse o contrato com o time contratante do jogador.


Algo semelhante aconteceu com o ator Casey Affleck. Ele foi denunciado por assédio sexual e moral contra colegas de trabalho. O caso foi resolvido em acordos com penalidades brandas e o ator continuou com contratos de patrocínios e também continua atuando e ganhando prêmios.

Casos assim, como o de Casey Affleck e do goleiro Bruno, trazem à tona o debate sobre o comportamento violento e agressivo de famosos que continuam no mercado sem danos que encerram suas carreiras. Isto cria uma sensação de impunidade que fica muito clara na revolta social em redes sociais, como o Facebook e Twitter. Ao mesmo tempo, geram grande comoção dentro do mercado do esporte e do entretenimento.

O que chama a atenção nesses casos é o modo como o mercado parece fazer vista grossa a esse tipo de comportamento. Assim como a forma descuidada que algumas mídias tratam a violência e a condição das vítimas e muitas vezes com um tom apelativo e sensacionalista. Outro ponto que chama a atenção é a maneira como um acusado famoso tem seus direitos legais cumpridos à risca quando comete um crime bárbaro; e como a execução da pena é progressivamente abrandada.

Enquanto parte da população carcerária que comete crimes menos graves não tem esses mesmo direitos defendidos ou não exatamente com a mesma velocidade, por que será que os benefícios não são postos para todos em medidas iguais?

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