Comemoramos hoje, dia 05 de novembro, o dia nacional do cinema brasileiro. Há 120 anos ocorreu a primeira exibição cinematográfica pública do país, no Rio de Janeiro, seguida pela inauguração de uma sala permanente, na Rua do Ouvidor, feita pelo empresário Paschoal Segreto e o bicheiro José Roberto Cunha Salles. Porém, há uma discussão sobre o cinema brasileiro ser comemorado nessa data. Em alguns locais, o dia certo é o 19 de junho, dia em que foi realizada a primeira filmagem em terras brasileiras. A filmagem retrata uma “Vista” de baía de Guanabara, filmada pelo italiano Alfonso Segreto, em 1898.
Durante dez anos os anos iniciais, o cinema brasileiro enfrentou grandes problemas para realizar a exibição de fitas estrangeiras e a fabricação artesanal de filmes. Isso aconteceu devido à precariedade no fornecimento de energia elétrica no Rio de Janeiro.A partir de 1907, com a inauguração da Usina Hidrelétrica de Ribeirão das Lages, o mercado cinematográfico floresceu. Cerca de uma dezena de salas de exibição são abertas no Rio de Janeiro e em São Paulo, e a comercialização de filmes estrangeiros acompanha uma promissora produção nacional. Em 1898, Afonso Segreto roda o primeiro filme brasileiro, que mostra algumas cenas da baía de Guanabara. Em seguida, são realizados pequenos filmes sobre o cotidiano carioca e filmagens de pontos importantes da cidade, como o largo do machado e a igreja da candelária, no estilo dos documentários franceses do início do Século.
Os filmes brasileiros e os estrangeiros alimentavam os poucos pontos de exibição. Alguns títulos da produção dessa época, às vezes exibidos apenas num único local, foram “Procissão do Corpo de Deus”, “Rua Direita”, “Sociedade Paulista de Agricultura”, “Avenida Central da Capital Federal”, “Ascensão ao Pão de Açúcar”, “Bombeiros” e “Chegada do General”. Uma característica observada nesse período é o predomínio de imigrantes, principalmente italianos, dominando as ferramentas técnicas e interpretativas, sendo responsáveis pelas primeiras produções, a participação de brasileiros efetivou-se com a representação de temas simples, cotidianos, obras teatrais leves e revistas.
Outra característica da época é o controle por parte dos empresários de todos os processos da indústria de cinematográfica, como produção, distribuição e exibição, prática que foi abolida por regulamentação algum tempo depois. Após 1905, é observado um certo desenvolvimento das apresentações, estimulando a concorrência entre os exibidores, e proporcionando o aprimoramento de algumas técnicas novas nos filmes, como temáticas e formas de exibição.
Algumas inovações são o aparecimento de filmes sincronizados com o fonógrafo e de filmes falantes, com a introdução de atores falando e cantando atrás das telas, realizadas por exibidores como Cristóvão Auler e Francisco Serrador, que já havia instalado a sua primeira sala fixa em São Paulo em 1907 e passou a produzir com Alberto Botelho outra novidade, os cine-jornais.
A partir de então começam a surgir produtores e exibidores com respaldo de grupos capitalistas, como aconteceu com Auler, que funda o cine teatro Rio Branco. É o momento do primeiro desenvolvimento das salas de exibição no Brasil, para criar uma demanda mais regular de produtos cinematográficos. Por volta de 1907 foi interrompida a venda de filmes para o Brasil, abrindo espaço para o trust formado por Edison nos Estados Unidos. Essa modificação no mercado cinematográfico brasileiro, que causou uma certa descontinuidade na importação, é considerada fator responsável para um primeiro surto produtivo brasileiro.
Os anos compreendidos entre 1908 e 1911 ficaram conhecidos como a idade de ouro do cinema nacional. No Rio de Janeiro, formou-se um Centro de Produção de Curtas, que além da ficção policial, desenvolveu vários gêneros. Desde melodramas tradicionais como “A Cabana do Pai Tomás” até carnavalescos como “Pela Vitória dos Clubes”. A maior parte é realizada por Antônio Leal e José Labanca, na Photo Cinematographia Brasileira.
Em 1908 são realizados no Brasil os primeiros filmes de ficção, uma série considerável com mais de trinta pequenos filmes. A maioria baseada em trechos de óperas, criando a moda do cinema falante ou cantante com intérpretes atrás da tela, outros engenhos sonoros, o que fosse possível.
Outra vertente que prosseguiu com sucesso no cinema mudo brasileiro foi o gênero policial. Em 1908 foram produzidos “O Crime da Mala” e “A Mala Sinistra”, ambos com duas versões neste mesmo ano, e ainda “os estranguladores”. Os filmes cantantes prosseguiam na moda e foram realizados alguns que marcaram a época, como “A Viúva Alegre”, de 1909, que aproximava os atores da câmera, operação pouco usual e fugindo da temática operística para adotar gêneros nacionais, foi realizada a revista musical satírica “Paz e Amor”, que se tornou um êxito financeiro sem precedentes.
Essa produção variada sofre uma redução significativa nos anos seguintes, por causa da concorrência estrangeira. Por causa disso, muitos profissionais da área cinematográfica migraram para atividades comercialmente mais viáveis. Outros sobreviveram fazendo documentários sob encomenda, o chamado “Cinema de Cavação”. A crise gerada pelo desinteresse dos exibidores por filmes brasileiros não foi uma questão superficial nem momentânea. Os circuitos de exibição, que começavam a se formar na época, foram seduzidos por perspectivas de negócios mais lucrativos com produtoras estrangeiras, adotando definitivamente o produto de fora, principalmente o norte-americano, tal fato colocou o cinema brasileiro na marginalidade por tempo indeterminado.
A partir disso, a produção de filmes brasileiros passou a ser ínfima. Até os anos 1920, a quantidade de filmes ficcionais ficou numa média de seis filmes anuais, às vezes com apenas dois ou três ao ano, sendo que uma boa parte destes era de curta duração. Com o fim da fase de produção regular de filmes, quem fazia cinema foi procurar trabalho na área documental, produzindo documentários, revistas e jornais de cinema, única área cinematográfica em que havia demanda. Após o ano de 1914, o cinema foi retomado, devido ao início da Primeira Guerra Mundial e consequente interrupção da produção estrangeira. No Rio e em São Paulo novas firmas produtoras foram criadas. A partir de 1915 é produzido um grande número de fitas inspiradas na literatura brasileira, como “Inocência”, “A Moreninha”, “O Guarani” e “Iracema”. o italiano Vittorio Capellaro é o cineasta que mais se dedica a essa temática. Embora a produção nacional tenha crescido notoriamente no período da guerra, após 1917 mergulha novamente numa fase de crise, desta vez motivada pela restrição dos filmes nacionais às salas de exibição. Essa segunda época do cinema no Brasil não obteve o mesmo sucesso que a primeira, pois era incipiente a realização de filmes de enredo.
Nesse período, um fenômeno que começou a dar mais vida ao cinema brasileiro foi a sua regionalização. Em alguns casos, com o próprio dono do cinema produzindo os filmes, formando assim a conjunção de interesses entre produção e exibição, seguindo o mesmo caminho que já havia certo no Rio de Janeiro e São Paulo.
O primeiro filme sonoro brasileiro é a comédia "Acabaram-se os otários", de 1929. "Coisas Nossas" de 1931, é um musical cantado em português, com cantores brasileiros, e de grande sucesso. No começo dos anos 1930, o cinema brasileiro passa por uma rápida fase otimista, já que os filmes falados de Hollywood têm dificuldades de entrar no mercado brasileiro, por deficiência das salas e pelo problema da língua. No entanto, as distribuidoras de filmes norte-americanos no Brasil investem muito dinheiro em publicidade e na aparelhagem de som dos cinemas, e passam a vender seus filmes no sistema de "lote".
Ao contrário do que se esperava, o público brasileiro rapidamente se acostuma a ler legendas. A revista Cinearte diz incentivar o cinema brasileiro, mas defende explicitamente a imitação dos filmes norte-americanos, sua "Higiene", seu "Ritmo Moderno" e seu respeito pelos que têm "O Direito De Mandar".
Em 1932 Getúlio Vargas cria a primeira lei de apoio ao cinema brasileiro, mas obrigando apenas a exibição de Cine-Jornais. No ano de 1934, não é produzido nenhum longa no país. Edgar Roquette-Pinto criou então o Instituto Nacional de Cinema Educativo e chama o diretor Humberto Mauro que, em 1936, produziu o filme épico “O descobrimento do Brasil”.
Desde sua criação, o cinema consolidou-se como uma atividade acessível e próxima do espectador. Em 1975, o Brasil possuía cerca de 3300 salas cinema, sendo 80% apenas em cidades do interior, região que reunia toda a população local para exibir os filmes. Porém, desde 1997, essa realidade mudou. Naquele ano, diante das grandes transformações ocorridas no cenário social, financeiro e tecnológico, o número de salas de cinema caiu para apenas 1000, estimativa que, hoje, segundo a Ancine (Agência Nacional de Cinema), duplicou, passando a 2200 salas de exibição. Atualmente, a maior parte das salas de cinema está localizada nos grandes centros, onde há uma alta movimentação financeira para tratar a questão e estimular a volta do cinema às cidades interioranas. A Ancine, por meio do programa cinema perto de você, desenhou o projeto cinema da cidade, que estimula, por meio de convênios com as prefeituras e governos estaduais, a implantação de complexos de cinema em cidades com mais de 20 mil e menos de 100 mil habitantes e que não disponham desse serviço.