Seis anos após o terremoto que matou aproximadamente 200 mil pessoas, o Haiti recebe outro visitante indesejado, o furacão Matthew. Os rastros de destruição foram potencializados nesse país que ainda se recuperava do incidente anterior.
28 mil casas foram destruídas e 842 corpos foram encontrados até sexta feira da semana passada. Segundo dados da defesa civil e do jornal El País, o fenômeno foi classificado como categoria quatro, o penúltimo nível da escala Saffir Simpson. Matthew alcançou 230 km/h.
A velocidade mais rápida registrada por um radar de trânsito é 248 km/h. Com essa quilometragem não foi possível fotografar a placa nem o modelo do veículo, isso demonstra a força dos estragos que o desastre foi capaz de causar. Desde Félix em 2007 Matthew é considerado o mais poderoso do Atlântico em quase uma década. Como se isso já não fosse bizarro o suficiente, fotos tiradas por satélite pela agência espacial Nasa mostram que o furacão visto de cima se assemelha muito a um crânio humano.
Abrigos provisórios montados em escolas alojam mais de 175 mil haitianos. As aulas de aproximadamente 100 mil crianças tiveram de ser adiadas pelo Ministério da Educação. O país foi o mais afetado pelo furacão e muitas áreas continuam inacessíveis para as equipes de resgate. O mar foi empurrado sobre as vilas costeiras, e o acesso a elas ficou impossibilitado por deslizamentos e enchentes em pontes e rodovias ocorreram grandes inundações e o acesso à água potável e objetos de higiene é raro.
Essa situação desperta na população o temor por um possível surto de cólera. A Organização Mundial da Saúde também está alerta para isso, pois em 2010, ano do terremoto, o país contou com 10 mil mortes pela doença. A região sul foi a mais castigada, pois, 300 mil residências sofreram danos. Na cidade de Jérémie, 80% das casas desmoronaram. A Unicef classifica a situação como apocalíptica e denuncia que existem 500 mil crianças desabrigadas ou em zonas de risco. O país fica situado sob uma falha tectônica que favorece a ocorrência de terremotos e ocupa a terceira montanha do ocidente da Ilha de Hispaniola. Com a chegada dos europeus ao local muitas florestas foram devastadas. De acordo com informações da BBC de 2010, apenas 3% da madeira continuava em pé. O desmatamento tornou possível que tempestades, terremotos e furacões trouxessem tamanha destruição ao Haiti.
Em 2008, no intervalo de um mês, a nação foi atingida por duas tempestades tropicais e dois furacões. E segundo o divulgado pela agência de notícias France Press, em torno de 100 ciclones, inundações e deslizamentos sucederam lá desde o início do século 20. Além disso, instabilidades políticas são constantes. Após a ditadura de 30 anos da família Duvalier ter fim, se estenderam sangrentos golpes de estado por mais 20 anos, o que impede o governo haitiano de se estabilizar financeiramente para reconstrução econômica e estrutural do Haiti.
Na quarta feira, o governo brasileiro comunicou o envio de barracas para ajudar o país caribenho. As barracas possuem 25m², o tamanho de um pequeno apartamento. As estruturas de montagem vão ser de fácil manejo, com o piso e cobertura feitos de PVC.
O envio foi realizado na sexta feira e nas próximas semanas os ministérios vão se reunir para elaborar novas ações de apoio. Entre elas estão incluídas a distribuição de kits contendo medicamentos. Os haitianos lideraram o ranking de imigração para o Brasil em 2015. Um aumento de mais de 30 vezes em relação a 2011, ano seguinte ao terremoto. A socióloga Patrícia Villen disse em entrevista para o portal G1, no dia do imigrante, que o principal atrativo o Brasil e uma política não agressiva em relação à imigração. O Estado do Acre costumava ser a região de entrada e permanência de grande parte dos imigrantes, porém com a regularização dos vistos e o superlotamento dos abrigos acreanos, São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram a rota escolhida.
Outros países como a França também tem contribuído para estabilizar a situação haitiana. O governo francês entregou duas estações de tratamento de água na terça feira pela manhã e, foram enviados também, medicamentos para o tratamento de cólera. Havia especulações de que Shakira também teria feito doação generosa de 15 milhões de dólares. O boato não foi confirmado pela Fundação Pies Descalzos, criada pela cantora. Na terça feira (11) membros da Organização afirmaram que a informação não era certa. O general brasileiro Ajax Porto Pinheiro, comandante das forças de paz da ONU no Haiti diz, porém, que as ajudas chegam em torno de 20% em relação à oferecida em 2010. Ele afirma que a mobilização não é tanta quanto as grandes comoções que acontecem em relação a Europa.
A ONU pediu à comunidade internacional de doadores que arrecade uma quantia próxima a 120 milhões de dólares. O valor será utilizado com resposta humanitária aos milhares de atingidos pela tragédia. Que nossos desejos de recuperação alcancem a nação haitiana.