Resistência e amor sintetizam Nara Leão, uma artista que se definia como sendo apaixonada pela alma brasileira. Nara Lofego Leão, natural do Espírito Santo se mudou para o Rio de Janeiro em 1943 com apenas um ano de idade e foi lá que fez a sua carreira artística e lutou politicamente para a liberdade e conquista de direitos no nosso país. Seu gosto pela música começou cedo, quando logo na infância iniciou aulas de violão e no segundo grau quando decidiu abandonar as aulas para se dedicar apenas à música. Nara inspirou grandes nomes e foi líder na criação de estilos e em movimentos culturais.
Uma das pioneiras na Bossa Nova, Nara Leão subiu a primeira vez em um palco em 1959. Tímida, cantando quase que de costas para o público e ainda em outro ritmo. Nara começou aos poucos a se aproximar dos organizadores do Centro Popular de Cultura Da União Nacional dos Estudantes (UNE). Lá se familiarizou e aderiu às ideias da esquerda política.
Enquanto isso, o movimento da bossa nova ia se dividindo em dois; os politizados e os não politizados. Nara, claro, estava no primeiro grupo, no entanto, insatisfeita com o surgimento do segundo. Nesta mesma época, uma outra mudança no estilo surgia, nomes próximos à cantora buscavam uma aproximação maior com os compositores de extração popular como Cartola e Nelson Cavaquinho. O objetivo? Fundir a música urbana à música do morro e à do sertão. Há ainda quem afirme que o primeiro disco de Nara Leão foi a base para o que hoje chamamos de Música Popular Brasileira.
Em 1963, Nara aderiu ao comando dos trabalhadores intelectuais, organização na qual os membros afirmavam participar da formação de uma Frente Única Nacionalista e Democrática com as demais forças populares arregimentadas na marcha por uma estruturação melhor da sociedade brasileira. Viajando pelo Brasil, Nara conheceu importantes artistas como Gil, Caetano e Maria Bethânia, o que depois trouxe frutos ao seu repertório e à nossa música nacional.
Foi Nara Leão quem transmitiu a primeira resposta do mundo artístico à ditadura militar. com seu LP “Opinião de Nara”, na qual a música que dava título ao trabalho começava com a frase, “pode me prender, pode me bater, que eu não mudo de opinião”. Todo o seu trabalho na época era recheado de críticas ao regime militar e às injustiças sociais e o LP “Opinião de Nara” chegou ao 2º lugar nas paradas de sucesso e empolgou artistas da época.
O LP se transformou em um show que teve sucesso de público e de crítica, mas que foi retaliado por grupos de direita dentro e fora do palco. Nara acabou se afastando do espetáculo, mas foi substituída por ninguém menos que Maria Bethânia. Em 21 de abril de 1965, Nara voltou aos palcos para o show “Liberdade, Liberdade”, escrito por Flávio Rangel e Millôr Fernandes e sofreu nova retaliação.
Em uma entrevista dada ao “Diário de Notícias”, Nara falou abertamente sobre a sua opinião de tirar os militares do poder entre outras críticas aos governantes do país na época, ela dizia que eles não entendiam nada de política. Insatisfeitos, os militares pediram a prisão e cassação da cantora, porém, intelectuais e artistas saíram em sua defesa.
Nara apoiou o movimento cultural tropicalismo, chegando a participar do disco Tropicália, mas o engajamento com o estilo parou aí. Com forte pressão dos militares, a cantora teve que se exilar na Europa, onde gravou um disco de bossa nova apenas com músicas de seus ex-companheiros artistas. Em 1970, em paris, nasce sua primeira filha, a Isabel, e em 1971, um ano depois, ela descobre que está grávida novamente. Nara volta ao Brasil em 1972 e dá a luz à Francisco. Com o fechamento dos espaços para divulgação da cultura nacional popular, ela se une a vários outros artistas e viaja pelo país para se apresentar em um circuito universitário. Três anos depois, ela ganhou o prêmio de melhor cantora do ano. No final da década de 1970 porém, a cantora descobriu um tumor no cérebro em uma área de difícil acesso. A doença não lhe fez parar a luta pela democratização do país, tendo ela se envolvido inclusive na campanha política dos candidatos da oposição em 1982 e também na campanha pelas diretas em 1984. Durante sua vida, Nara Lofego Leão obteve o título musa da bossa nova e além de cantora foi atriz e apresentadora de TV e sempre se manteve ativa na vida política brasileira. Devido à doença, Nara Leão faleceu em sete de junho de 1989. A cantora deixou mais de 20 álbuns gravados e uma história de resistência admirável.