“Antes de ficar com ele você era uma pessoa felizinha, depois de ficar com ele um tempo, você está murcha como uma uva passa”.
Essa é uma das definições da youtuber Jout Jout para descrever um relacionamento abusivo no vídeo “Não Tira o Batom Vermelho”. O fenômeno da internet ajuda a identificar quando o parceiro ou parceira começa a se sentir dono de nossas decisões individuais. Muitas pessoas passam ou já passaram por essa situação sem ao mesmo se alertar para o abuso ocorrido.Este Cine Rádio Especial relata um caso claro de como a vida inspirou a arte. Os relacionamentos abusivos são retratados em diversos seriados populares de canais acessíveis como o Netflix, por exemplo. Fique ligado se você é um observador atento desse tipo de ocorrido.
Estreou recentemente uma nova série da Netflix centrada na história de Luke Cage, envolvimento amoroso da heroína da Marvel, Jessica Jones. Antes de encontrar o boy magia, Jessica procurava superar os traumas causados por um relacionamento abusivo. A heroína dos quadrinhos é imbatível, menos quando submetida aos poderes de controle mental de Killgrave. O vilão da trama usa de artifícios para abusar física e mentalmente de Jessica, alegando apenas amá-la e desejar o melhor para ela.
Jessica, no entanto, usou dos superpoderes e da força de vontade para lutar contra as agressões de Killgrave e evitar que ele fizesse o mesmo com outras jovens. O final, você obviamente vai ter que descobrir, porque não pretendemos dar spoiler.
Outro caso de mulheres submetidas ao domínio masculino sem lhes restar qualquer resistência está no sucesso das bilheterias, “Mad Max - Estrada da Fúria”. Imortan Joe, líder do exército dos war boys, mantém cinco esposas em cativeiro, as estuprando todos os dias para gerar filhos saudáveis. As moças ficam presas dentro de um cofre com um cinto de castidade de metal fechado com cadeado. Isso ocorre até o ex-policial Max e a imperatriz Furiosa, uma guerreira que desobedece aos comandos de Imortan Joe, as resgatam.
A dramaturgia não mostra só casos de mulheres empoderadas lutando contra a violência masculina. Algumas personagens aceitam os excessos do parceiro por acreditarem na normalidade de sue relacionamento. Um exemplo disso é o casal Arlequina e Coringa apresentado no filme “Esquadrão Suicida”. Arlequina admite inúmeras torturas para ganhar a confiança e o amor do “pudinzinho”. O vilão e mandante dos crimes praticados pela jovem apaixonada, durante uma das cenas do filme pede uma prova de amor nada praticável. Coringa sugere que a moça se atire de uma grande altura em um recipiente com um líquido desconhecido. Margot Robbie, atriz que vive a Arlequina no longa falou sobre as várias cenas representando a vilã como, ao mesmo tempo, vítima e refém amorosa do Coringa. Em entrevista ao “The Washington Post”, a intérprete diz não saber como uma mulher tão durona se despedaça por causa de um cara. Margot fala ainda que alguns fãs parecem amar muito esse aspecto da personalidade da vilã: a devoção por um homem que só a trata mal.
Lendo alguma fanfics, histórias escritas por fãs de filmes, séries e bandas, se percebem esse estranho gosto por romances baseados na agressão. Nos sites onde essas narrativas são postadas, é nítida a tendência à publicação delas na categoria indicativa, de 18 anos ou mais. Comumente dentro desse grupo de histórias, encontramos romantização do estupro e de relações nas quais um dos envolvidos domina a outro. Ou seja, alguns indivíduos além de pagarem por conteúdos hollywoodianos com essa temática, produzem algo semelhante.
Esse comportamento social é que movimenta o mercado de filmes como os da série “50 Tons de Cinza”. A obra cinematográfica vai lançar uma sequência, “50 Tons Mais Escuro”. O primeiro filme extrapola na construção da imagem de uma protagonista submissa, Anastasia, que aceita qualquer condição para capturar o coração do magnata Christian Grey.
Entre essas regras que a garantem ficar ao lado desse homem bonito e poderoso, está a pratica de gostos sexuais peculiares, não necessariamente os de Anastasia. Além disso, Christian chega a comprar o local de trabalho da protagonista, apenas para poder obter mais controle sobre a moça.
Ao tratar desses assuntos na ficção, os diretores às vezes pretendem tornar evidente que esse tipo de violência persiste atualmente. Muitos fãs indignados podem se alertar e desenvolver mecanismos para escapar de um possível relacionamento abusivo. Em outros casos, o que se percebe é a normalização dos relacionamentos abusivos como parte da cultura. Nessas situações específicas, os papéis de vítima e dominador são tomados como mais uma maneira de se envolver romanticamente e que não deve ser julgada. Cumprindo função social ou incentivando abusos, a indústria cinematográfica sempre aborda temas do cotidiano. Cabe a nós, telespectadores, decidir o uso que fazemos das informações passadas.
Confira agora algumas dicas para identificar se o seu relacionamento ou daquele casal da sua série favorita, é abusivo.
1 - não há respeito a privacidade de um ou de ambos os envolvidos.
O romance se torna uma espécie de prisão e isso o torna menos prazeroso.
2 - em uma discussão, um dos parceiros sempre procura provar que está certo
E o pior, ele consegue.
Enfim, tudo aquilo em uma relação que te faz sentir manipulado, vigiado, sufocado e faz abrir mão de muitas vontades. Fique atento, pois isso pode ocorrer bem próximo de você.