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Vida e arte de Almodóvar

Hoje, vamos falar de cinema espanhol e mais especificamente de Pedro Almodóvar, que fez aniversário hoje, 24 de setembro. Você com certeza já deve ter ouvido falar dele. Acontece que depois do surrealista Luiz Buñuel, Almodóvar é o cineasta espanhol mais conhecido no mundo, e não é sem razão. Pedro Almodóvar nasceu na cidade de Calzada de Calatrava, na região central da Espanha, chamada La Mancha, a mesma região onde o personagem Don Quixote de La Mancha teria vivido a maior parte de suas aventuras. O ano em que Almodóvar nasceu é incerto, e existem dúvidas quanto a 1949 ou 1951. Por isso, não temos certeza se hoje ele completa 67 ou 65 anos.

Ainda durante sua infância, a família Almodóvar se mudou para a região autônoma de estremadura, onde ele viveu até os 16 anos, quando então foi morar em Madri, a capital, com o projeto de estudar e fazer filmes. Parte desse projeto não foi realizada: a de estudar. Isso porque sua família não tinha condições de pagar por sua formação na área de cinema. Sendo assim, o jovem Almodóvar teve que se sustentar sozinho, muitas vezes em empregos informais.

Foi em um emprego formal como assistente administrativo na companhia telefônica nacional que Almodóvar conseguiu juntar dinheiro para comprar sua primeira câmera: uma super 8. Com ela, gravou seus primeiros curtametragens, entre os anos de 1974 e 1978. O emprego que nada tinha a ver com sua personalidade artística também lhe proporcionou outra coisa boa: ele pôde observar pessoas da classe média espanhola numa época em que o consumismo tinha início em seu país. Isso lhe serviria de inspiração para seus futuros trabalhos.

Seu primeiro longa-metragem, chamado "Pepi, Luci, Bom e outras garotas de Montão" foi lançado no ano de 1980, ano em que a Espanha se tornava um país democrático. O país havia sofrido um golpe de estado em 1936, e desde então era um regime fascista, conservador e anticomunista, governado pelo ditador Francisco Franco. A morte de franco, em 1975, e a aprovação de uma nova constituição em 1978 restauravam a democracia. Se o regime anterior tivesse continuado, o filme de Almodóvar seria considerado certamente subversivo. O longa acompanha três mulheres: Pepi, que deseja se vingar de um policial que a estuprou; Luci, uma dona de casa masoquista e Bom, uma cantora de punk-rock, que é lésbica. Mas o reconhecimento internacional viria apenas oito anos depois, com mulheres à beira de um ataque de nervos. O longa fez com que Almodóvar ficasse conhecido fora da Espanha, e foi indicado para a categoria melhor filme em três conhecidos prêmios de cinema: o Oscar, o Globo de Ouro e o Bafta. O filme não chegou a ser premiado em nenhum deles, mas depois, Almodóvar receberia muitos outros prêmios: duas vezes com o Oscar e com o Globo de Ouro Além quatro vezes com o Bafta e com o Festival de Cannes, em diferentes categorias, e também por trabalhos diferentes.

Os filmes de Almodóvar têm algumas características especiais. Em primeiro lugar, o exagero. Os figurinos costumam ser coloridos e ter referências à pop art. E as histórias têm apelo emocional, contendo sempre elementos trágicos, como assassinatos, traição, obsessão ou vício em drogas. Almodóvar também gosta do tipo de protagonista que enfrenta grandes obstáculos em sua trajetória.

As cores são outro elemento marcante. Nas cenas de seus filmes sempre há papéis de parede, móveis, objetos e roupas bastante coloridos. Questionado sobre isso em entrevistas, o diretor já afirmou que “cada elemento é escolhido por uma razão”. Mas, entre todas as cores, a mais notável é o vermelho, que sempre se faz presente. O motivo é o fato de o vermelho ter significados nas mais variadas culturas. Para nós, ocidentais, costuma ser a cor da paixão, do fogo, do ódio. No Japão, por exemplo, seria a cor dos condenados à morte.

Almodóvar é conhecido pelas personagens femininas fortes em seus filmes, e costuma criá-las de formas diferentes. Por vezes, a personagem pode ter sido vítima de alguma espécie de abuso e dar a volta por cima. Ela pode superar uma tragédia ou traição conjugal ou o filme pode conter ainda uma forte relação familiar ou de amizade entre diferentes personagens mulheres. Dizem que alguns diretores têm seus atores preferidos, não é? E Almodóvar também tem os seus. Algumas atrizes que aparecem constantemente em seus filmes são Carmem Maura, Marisa Paredes, Rossy de Palma e Victoria Abril. O costume de repetir os mesmos atores em diferentes trabalhos fez com que alguns artistas ficassem conhecidos internacionalmente e, com status de celebridade mundial. É o caso de Antonio Banderas e Penélope Cruz. O diretor ainda é conhecido pela representatividade em seus personagens. Vários de seus filmes têm personagens homossexuais, bissexuais e também transexuais. Por causa disso, o público considera aberta a forma que aborda a sexualidade em seus trabalhos.

Desde 1980 até agora, Pedro Almodóvar produziu 20 filmes, sendo os mais conhecidos: Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, Carne Trêmula, Tudo Sobre Minha Mãe, Fale com Ela, Má Educação, Volver, A Pele que Habito e também o novíssimo Julieta, que foi lançado este ano.

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