Cerca de 660 homicídios por armas de fogo aconteceram em Goiânia apenas no ano de 2014, é o que aponta a pesquisa mapa da violência 2016, coordenada pelo sociólogo Julio Jacobo. Esse dado coloca em pauta um assunto que interessa a toda a sociedade, a segurança pública.
Em 10 anos, o número desse tipo de homicídio cresceu aproximadamente 112%. Tudo isso gera na sociedade uma sensação de vulnerabilidade e impunidade que tem provocado cobranças ao governo por medidas punitivas mais eficazes.
Como previsto no artigo 144 da constituição federal, a segurança pública é dever do Estado, porém é responsabilidade de todos. O que significa que os cidadãos também são incumbidos de preservar a ordem pública e zelar pelo patrimônio e bem estar da população, bem como, denunciar casos em que há a violação das leis.
Há uma ideia que explica bem essa tendência da sociedade em esperar que as atitudes partam do outro, é chamada teoria das janelas quebradas. Imagine um prédio com uma janela quebrada, se não for logo consertada, a provável reação é que mais pessoas joguem pedras para quebrar as outras janelas no lugar de reparar a falha. Na prática, essa teoria pode ser comprovada ao observar casos de linchamentos coletivos. A cultura da “justiça com as próprias mãos” é reflexo de uma sociedade em que a violência já se tornou banalizada. Cansados dos crimes presenciados todos os dias, seguidos do descaso por parte das autoridades, os cidadãos optam por atitudes extremas.
De acordo com o doutor em sociologia e professor Dijaci David de Oliveira, a cultura da espera é comum nas sociedades em que não há espaço para a participação das pessoas no debate público. Ela cria um círculo vicioso de descrença e falta de representatividade. Assim, os cidadãos são conduzidos a remediar a violência com mais violência.
O sociólogo apontou também que a maioria dos crimes solucionados pela polícia só encontra desfecho depois de denúncias anônimas. Esse déficit de participação pública é em virtude da falta de informação, espaço e mecanismos para que ela aconteça.
O Estado, por meio de seus órgãos, tem o dever de garantir segurança aos cidadãos. Entretanto, assim como todos têm direito de viver em um ambiente seguro, é também necessário que todos sejam responsáveis por zelar pela segurança pública.
Nós, como cidadãos, devemos começar agindo como tal, sendo éticos, educados e respeitando as leis em vigor, podemos incentivar e educar as pessoas ao nosso redor para serem o mesmo. Essa postura deve nos acompanhar sempre, desde as ações mais simples do nosso dia a dia. Pequenas infrações podem parecer algo inofensivo, contudo em longo prazo podem mudar o caráter de uma pessoa. É também importante que os cidadãos compreendam seu papel como fiscalizadores, que pode ser feito de forma simples; Caso você tenha sido vítima de um crime, é importante ligar para o 190 e informar a ocorrência do ato criminoso, também é preciso denunciar, mesmo que anonimamente, crimes que acabem sendo de seu conhecimento. Além de cobrar das autoridades, é necessário participar do debate. Frequente e provoque reuniões e ações comunitárias em sua comunidade, levantando possibilidades de ações coletivas de prevenção à criminalidade, participando ativamente de eventos como esses, você discute, opina e acima de tudo, aprende mais sobre como pode assumir seu papel como agente transformador da realidade social.
É ainda necessário que haja mais e melhor investimento em segurança pública. Goiás investe, de acordo com dados do fórum brasileiro de segurança pública, um valor aproximado de 333 reais com segurança por pessoa, entretanto, o Estado é um dos mais violentos do país, ocupando a 7ª posição das unidades federativas com maior número de taxas de homicídio por armas de fogo por 100 mil habitantes.
Sem o número de profissionais necessário bem como de viaturas e equipamentos, fica difícil com que se responda à altura ao avanço da criminalidade. As corporações acabam trabalhando com capacidade reduzida e sobrecarregando seus policiais, o que contribui com a diminuição da produtividade de seus profissionais.
Sabe-se que outras medidas também podem ser tomadas para melhorar a segurança pública. A integração entre setores é uma boa saída e já teve casos de sucesso em outros Estados. No Ceará, se congregaram Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público, Corpo de Bombeiros e Judiciário em um só programa, que conseguiu redução na criminalidade. O fortalecimento do Estatuto do Desarmamento também é importante, considerando as altas taxas de homicídios por arma de fogo. As falhas na ressocialização dos presos, bem como do sistema presidiário em geral, também contribuem para esse triste cenário.
A segurança pública vai ser de fato possível no dia em que diversas instituições sociais se juntarem em prol do debate claro e legítimo. Por outro lado, é importante observar que o controle da violência se faz também com políticas de prevenção, especialmente, com o desenvolvimento de projetos educativos.