No dia sete de setembro, ocorreu a abertura oficial dos Jogos Paralímpicos de 2016. Mas, diferente do que aconteceu quando se iniciaram os Jogos Olímpicos, nem todo mundo pôde assistir pela televisão. Isso porque a Rede Globo, uma das principais emissoras de TV aberta no país, não realizou a transmissão da cerimônia de abertura. A emissora manteve sua programação normal, exibindo apenas alguns momentos marcantes do evento, após o futebol.
A abertura dos Jogos Paralímpicos foi exibida em vários canais de TV à cabo, inclusive no Sportv, que pertence à Rede Globo. Ainda na mesma noite, internautas começaram a se manifestar nas redes sociais, expressando insatisfação. Todos estavam muito irritados, porque tinham a expectativa de acompanhar o evento, mas não puderam fazer isso.
Muitos deles ironizavam os canais de TV aberta, questionando se as emissoras se importam com os atletas paralímpicos. Fazendo uma pesquisa rápida pela internet, é possível saber quais canais vão exibir os jogos ao vivo, até o dia 18. Segundo o site Blasting News, os canais de TV a cabo Sportv 1, 2 e 3 devem fazer a cobertura ao vivo dos jogos.
Segundo o site torcedores.com, ainda haverá transmissão no canal GLOBOSAT, também pago. Ainda é possível acompanhar pelo computador, celular smartphone ou tablet, nos aplicativos Sportv Play ou Sportv Rio 2016. Segundo os dois sites, a única emissora de TV aberta que transmitiu ao vivo a abertura e deve transmitir algumas das competições é a TV Brasil, junto a emissoras locais parceiras.
Na Rede Globo, apenas os resultados das principais competições devem ser mencionados ou exibidos nos telejornais e programas esportivos, não há previsão de cobertura ao vivo. Foi com razão que internautas fizeram críticas na noite do dia sete. Afinal, quando houve a abertura dos Jogos Olímpicos, no início do mês passado, as principais emissoras gratuitas realizaram a transmissão. A Rede Globo chegou a interromper a exibição das telenovelas da noite, em horários considerados nobres da audiência, para dar prioridade à festa. Então, por que a mesma coisa não foi feita dessa vez? Por que um dos eventos foi considerado mais importante do que o outro?
Segundo dados da agência nacional de telecomunicações, a Anatel, em janeiro deste ano, o número de pessoas que assinam TV paga era de 18,99 milhões. Isso equivale a menos de 10% da população do Brasil, que já ultrapassou a marca de 200 milhões de pessoas. Segundo a mesma pesquisa da Anatel, o estado em que mais pessoas têm assinatura de TV a cabo é São Paulo, com 7 milhões de assinaturas. O Estado com menor número é Roraima, com quase 19 mil.
Esses números são um dos indicativos da grande desigualdade social no Brasil. Ter acesso a certa variedade de canais de TV ainda é um luxo para poucos. E numa noite como a do dia sete, menos de 10% dos brasileiros puderam acompanhar pela televisão a abertura das paralimpíadas.
Uma coisa triste que acontece como consequência disso é a perda da representatividade. Nós abordamos esse conceito durante o Matéria Prima da semana passada. Significa, em resumo, que quando representantes de alguns grupos sociais excluídos ou oprimidos são colocados em evidência, eles têm o poder de inspirar outras pessoas em situação parecida. Essas pessoas, então, percebem que são capazes, e que seus sonhos e planos podem se realizar!
Muitos brasileiros e brasileiras que têm deficiência física, intelectual ou motora poderiam estar acompanhando as paralimpíadas pela televisão, pelo rádio ou pelos jornais. E poderiam dessa forma, ver que, para aqueles atletas, a falta de um sentido, a dificuldade de locomoção ou mesmo a ausência de um membro não foram empecilhos, eles se sentiriam representados.
Porém, a decisão das emissoras de TV aberta em ignorar a maior parte do evento, acaba tirando a chance que muitas dessas pessoas teriam de admirar os atletas paralímpicos. A televisão ainda é o principal meio de acesso à informação para o brasileiro. E a para a TV aberta, as paralimpíadas, aparentemente, não são prioridade.
Isso tudo é lamentável, porque os atletas paralímpicos brasileiros costumam obter grande destaque desde que se iniciaram as competições, das edições anteriores das paralimpíadas, o Brasil conta com 109 medalhas e na edição deste ano, já conquistou pelo menos dez.
Com tudo isso, notamos que existe entre nós um ato de não-valorização dos atletas paralímpicos. Vale lembrar que, algumas semanas atrás, os ingressos para Jogos das Paralimpíadas tiveram uma grande redução em seu preço, pela falta de demanda e só após campanhas de publicidade é que houve procura significativa.
Se tudo isso foi motivado por preconceito, não sabemos dizer. Mas a equipe do Matéria Prima deseja, a todos os atletas que estão competindo, muita determinação e garra. E que o Brasil inteiro descubra do que eles são capazes!