Em comemoração aos 50 anos de Star Trek, ou para os mais old school, Jornada nas Estrelas, vamos falar dessa franquia rompedora de correntes, e que já foi onde ninguém jamais esteve. Para os haters de plantão, não estamos aqui elegendo a melhor geração de Star Trek, muito menos se Star Wars é mais ou menos legal, ou ainda decidir quem ganha: Marvel ou DC. Não, não, hoje caminhamos juntos em direção ao 50º aniversário da jornada pela fronteira final.
Foi em 1966 que um ex-piloto da companhia aérea Pan Am teve a genial ideia de criar e colocar na TV uma série de ficção científica simplesmente nomeada de Star Trek. Esse ex-piloto foi Gene Roddenberry. Foi ele quem tentou pela primeira vez fazer ficção científica séria e com personagens fixos na TV americana. Antes de Jornada nas Estrelas, duas outras séries do mesmo gênero já faziam grande sucesso, a primeira foi “Além da Imaginação”, e a segunda era "Doctor Who", que perdura até os dias de hoje.
A ideia básica por trás da série é bem simples. As aventuras da galante tripulação de uma nave espacial nos confins do espaço, em que tudo se passa em meados do século XXIII. Nessa época, os humanos já teriam desenvolvido o motor de dobra, ou seja, um meio de viajar na velocidade da luz. Além disso, estariam em uma situação muito melhor que a atual: a terra não teria conflitos, guerras ou problemas sociais, seu governo seria centralizado e seu nível tecnológico infinitamente superior.
Restaria apenas a busca pelo desconhecido. A busca por novos mundos, novas vidas e novas civilizações, a fim de aprimorar mais e mais sua sociedade e conhecimento. As aventuras da nave estelar Enterprise traziam muitas inovações na década de 1960. Sua tripulação possuía uma grande variedade étnica, com caucasianos, orientais, africanos e extraterrestres que conviviam harmoniosamente entre si, numa demonstração de tolerância, inclusão e amizade mútua.
As histórias de Gene Roddenberry eram igualmente inovadoras. O ex-piloto e ex-policial usava sua experiência pessoal como fonte das tramas. Havia temas políticos e temas sociais, o que inclui o beijo entre o capitão Kirk e a tenente Uhura: o primeiro beijo interracial da história da televisão mundial.
A série continua até hoje abordando temas representativos e desconstruindo preconceitos. Foi revelado que um dos personagens clássicos, Hikaru Sulu, o piloto da Enterprise, terá sua vida pessoal apresentada no filme que estreia esse ano, Star Trek - Sem Fronteiras. O personagem estará casado com outro homem e, juntos, terão uma filha.
Quando Jornada nas Estrelas estreou no canal NBC, a série não alcançou nem metade do sucesso que tem hoje. Os índices de audiência foram baixos e antes do final da primeira temporada, alguns executivos da NBC queriam cancelar o programa. Ao final de sua segunda temporada, Star Trek quase foi cancelada novamente. Em virtude de uma campanha dos fãs, a série conseguiu um terceiro ano e depois de 79 episódios, as histórias da Enterprise encontravam seu fim.
Porém, com as incontáveis reprises durante a década de 1970, Jornada nas Estrelas se tornou extremamente popular, e foi seguido por outras cinco séries de TV derivadas e mais treze filmes. O livro Guinness dos Recordes reconhece Star Trek como a série com o maior número de derivados da história. Afinal, com esse infinito universo criado por Roddenberry, é possível desbravar inúmeras histórias a cada geração.
O criador da série tentou fazer com que a Paramout Pictures continuasse a franquia através de um filme, mas ao invés disso, o estúdio planejou retornar as histórias para suas origens, com uma nova série de TV chamada Jornada nas Estrelas: Fase Dois. Entretanto, o sucesso de crítica do filme "Contatos Imediatos de Terceiro Grau", convenceu a Paramount de que filmes de ficção científica diferentes de Star Wars seriam mais sucedidos. Assim, a fase dois foi cancelada e o estúdio foi com o projeto de levar Star Trek aos cinemas. Novos uniformes foram criados, a Enterprise foi inteiramente modificada tanto dentro quanto fora e diferentes roteiristas corriam para adaptar o episódio piloto da série em um roteiro cinematográfico. Devido a correria, o filme só foi terminado dias antes da estreia. Com o próprio diretor levando o longa para sua abertura na cidade de Washington.
Jornada nas Estrelas: O Filme estreou em dezembro de 1979 e recebeu críticas mistas, que destacavam a falta de ação e o uso excessivo de efeitos visuais. Sua arrecadação nos cinemas foi o suficiente para que uma sequência mais barata fosse produzida, e assim veio Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan. Leonard Nimoy, o comandante Spock, não apareceria originalmente no filme, mas foi convencido a retornar com a promessa de que seu personagem receberia uma cena de morte dramática. Estreando em 1982, o filme é amplamente considerado como o melhor da franquia, apontado como o que renovou o interesse do público pelas histórias.
A decisão de se fazer um terceiro filme veio com o sucesso do anterior. O próprio Nimoy o dirigiu, sendo o primeiro membro do elenco a assumir o cargo em alguma produção de Star Trek. O roteirista escreveu a história começando pelo final e voltando, pois queria que a destruição da Enterprise fosse um momento chocante. Leonard disse que o tema principal do filme é a amizade: “o que uma pessoa faria por seu amigo?”. Em 1984 foi lançado Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock.
Pelo seu modo de dirigir, valorizando os personagens e o elenco, Nimoy foi convidado para dirigir a sequência: Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa. Ele recebeu uma liberdade maior e pode decidir junto com o produtor qual caminho tomar. Os dois conceberam uma história com uma mensagem ecológica e sem um vilão definido. O humor do filme e a trama não convencional foram bem recebidos pelo público em geral, trazendo vários prêmios e até mesmo indicações ao Oscar. Já em 1989 foi a vez de William Shatner, o capitão Kirk, assumir a direção de um filme da franquia. O roteiro original não agradou boa parte da produção, tendo sido até mesmo reprovado pelo criador Roddenberry. Após passar por múltiplas revisões e ter enfrentado uma greve de roteiristas na pré-produção, suas filmagens começaram um ano antes da estreia.
O final do filme foi retrabalhado devido a reações ruins em sessões teste, e pela má execução dos efeitos planejados. Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira teve a melhor abertura para um filme da série até aquele momento. Foi o número um de bilheteria em sua primeira semana, porém as arrecadações diminuíram nas semanas seguintes. De acordo com os produtores, as críticas ruins quase mataram a franquia. Exagerados, não? Já que o filme seguinte, Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida foi melhor recebido.Lançado em 1991, o longa é o último a incluir todo o elenco da série original da década de 1960.
O sexto filme foi planejado pra ser um filme que antecedesse a série original. A história traria atores jovens interpretando a tripulação da Enterprise enquanto eles ainda estavam na academia da frota estelar. Mas a ideia foi descartada devido a reações negativas do elenco, sendo usada, mais tarde, no filme de 2009.
“A Terra Desconhecida” foi elogiado pelas atuações e referências burlescas. Infelizmente, Gene Roddenberry, o criador do que estamos homenageando hoje, morreu pouco antes da estreia do filme, dois dias depois de tê-lo assistido.
Nos anos seguintes, a franquia permaneceu firme por um longo tempo até que o esgotamento dos filmes e das séries aconteceu no início do século XXI. Depois das séries como A Nova Geração, Deep Space Nine, Voyager e Enterprise, os fracassos no cinema e na TV se sustentavam com uma baixa audiência. Contudo, diante da falta de interesse do público, a última série, "Enterprise", foi cancelada em 2005 e a franquia caiu num buraco negro.
O futuro era incerto até que quatro anos depois, o hoje consagrado cineasta, J. J. Abrams colocou sua mãozinha no buraco negro e ressuscitou a franquia com o seu reboot: Star Trek. O filme trouxe os mesmos personagens da série clássica em uma realidade alternativa, integrando essa nova história em todo o universo que já existia antes. O longa foi bem recebido por grande parte dos fãs. Alguns ficaram com o pé atrás com a renovação, mas com a estreia esse ano de “Star Trek - Sem Fronteiras”, é provável que a aprovação dessa nova realidade seja geral. O filme já estreou em alguns países e é quase unânime: essa nova aventura revitalizou a franquia, e não se esqueceu da Jornada nas Estrelas que possibilitou sua chegada até aqui.
Eu mesmo estou sedento pra assistir ao filme, que estreia em setembro aqui no Brasil. Na Comic-Con que está acontecendo esses dias em San Diego, “Sem Fronteiras” foi exibido ao ar livre, no qual foi retirada a trilha sonora do filme para que ela fosse orquestrada lá mesmo, ao vivo.
Mas tudo também não são apenas flores. Nos 50 invernos dessa jornada, houve muitas perdas. Leonard Nimoy, o primeiro Spock, veio a falecer ano passado devido a uma doença pulmonar. Nesse ano, meses após terminar suas filmagens em “Sem Fronteiras”, Anton Yelchin, o atual e já eterno Pavel Chekov, faleceu após sofrer um acidente de carro em sua casa. Não é só de alegria que cinco décadas são feitas, tenho certeza que cada um deles foi onde ninguém jamais esteve.
Após um hiato de mais de dez anos, a emissora CBS anunciou que uma nova jornada está no forno e estreará em janeiro de 2017. O novo projeto deve introduzir novos personagens e novas civilizações; não só ela, “Star Trek - Sem Fronteiras” conta com mais de 50 novas espécies de alienígenas em comemoração ao aniversário desse universo.
A Netflix já comunicou que vai exibir a nova série 24 horas depois da TV. E não apenas isso, vai também disponibilizar todos os 727 episódios da franquia para seus assinantes.
Star Trek está apagando as velinhas com felicidade. Poderíamos continuar conversando sobre Jornada nas Estrelas em mais 15 KG de texto e, ainda assim, não chegaríamos perto da verdadeira homenagem que a franquia merece. O espaço, a fronteira final, aquelas são as viagens da nave estelar Enterprise em sua contínua missão, de explorar novos mundos, de buscar novas formas de vida e novas civilizações, audaciosamente indo onde ninguém jamais esteve.