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Como a mídia trata as conquistas das mulheres?


Você sabe quem é Serena Williams? Não? Bom, se você não sabe, a culpa não é sua, mas fique sabendo que Serena é, simplesmente, a maior jogadora de tênis do mundo. Estranhou nunca ter ouvido muita coisa sobre ela? Você não está sozinho, a maior parte das pessoas brasileiras também nunca ouviu. Vou te contar algumas coisas que vão te dizer as razões desse fato curioso.

Ahhhhh, as mulheres... vamos falar sobre elas? Elas se deliciam demais ao ver um cartão de crédito. Uma mulher conquistou algo na vida? É claro que os veículos de comunicação não vão se referir a ela pelo nome, ela é a mulher do fulano, propriedade de seu marido. Se ela cometeu algum erro na vida, é mal amada, é falta de homem. As publicidades mostram que para vender cerveja é necessária uma mulher de biquíni para atrair a atenção dos homens. Se ela foi estuprada, a culpa foi dela, dizem os jornais.


Mulher tem a obrigação de se depilar, é feio e falta de higiene ter pêlos no corpo, mas se você é homem, precisa ter pêlos para provar sua masculinidade. Afinal, se depilar é coisa de mulherzinha! Ser mulher deve ser realmente algo muito vergonhoso, né? Mulheres possuem genes que as fazem ser motoristas ruins, atletas ruins, pessoas ruins. E elas tem de aguentar esses fardos caladas, pois se for feito o contrário, os homens vão ficar ofendidos, afinal, em um mundo que foi feito pelos homens para privilegiar os homens, é lógico que eles não vão querer abdicar dos seus privilégios. E que ideia horrível as mulheres serem tratadas como pessoas em um sistema pautado na equidade que acabaria com a dominação masculina.


Nos comerciais, nos jornais e mídia tradicional, o que a gente vê sobre as mulheres é, basicamente, isso: elas são produtos, incapazes de conquistar qualquer coisa, fracas, loucas e tudo que há de ruim; seus corpos são vendidos como se fossem objetos e a culpa disso é delas mesmas, dizem os veículos.


E é por isso que você ainda não deve ter ouvido falar sobre Serena Williams. No último dia 14 de julho ela ganhou o prêmio Espy de melhor jogadora de tênis pela 8ª vez. Também em 2016, ela foi campeã do torneio de Wimbledon, na Inglaterra, pela 7ª vez.


Serena tem simplesmente vinte e dois títulos de Grand Slamms. Sim, ela é a maior jogadora de tênis do mundo inteiro, e o mundo é bem grande. Mas isso não interfere nada no fato de que ela é uma mulher, também não interfere nada no fato de que ela é negra.

O que a gente pode tirar disso é que a mídia brasileira está inserida em uma sociedade machista e racista, e não se dispõe a não reproduzir isso. Pelo menos não até agora. Ela pode ser a melhor do mundo, pode conquistar o título que for, pode se virar do avesso de tanto trabalhar, ela continuará sendo menosprezada, porque o jornalismo esportivo não está interessado nas mulheres.


Serena Williams participará das Olimpíadas no Rio de Janeiro, mas ainda não possui nenhum destaque em nenhum blog ou portal de jornalismo esportivo brasileiro na internet.


Ahhh me enganei. Pois ela possui espaço em alguns blogs e portais de jornalismo esportivo sim, mas não pelas suas conquistas. A sessão de tênis do “Globo Esporte”, por exemplo, falou de Serena. Uma reportagem feita sobre a atleta não reverenciada seus atributos atléticos, mas sim seus braços fortes, que são seu “atributo número um”, de acordo com o site.


É assim que funciona a mídia tradicional brasileira, até hoje. Uma mulher negra atinge o posto de maior tenista do mundo e, para essa mídia, o que mais interessa sobre ela são seus braços. Não pense que os comentaristas a tratam com respeito, vários deles já se referiram a ela como “Serenão”, mulher macho, show de horrores, “macaca” e outros adjetivos pejorativos, racistas, machistas e odiosos.


Sobre isso, saliento palavras da secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo, Djamila Ribeiro. Ela que também é uma mulher negra, se manifestou nas redes sociais sobre as conquistas de Serena.


Djamila disse que “Serena cometeu o terrível crime de sair do seu lugar e jamais será perdoada, mas ao mesmo tempo vai incentivar outras mulheres a saírem também. Devemos nos focar na luta para que uma mulher negra campeã no tênis não seja mais exceção, assim como na universidade e em outros espaços.


Serena não está sozinha, nunca esteve. Assim como Serena, a então chefe do executivo, Dilma Rousseff, é quase sempre retratada pela mídia de forma misógina. Inclusive, foi alvo de depreciação ao ter uma montagem de seu rosto com fundo de chamas estampada na capa de uma revista de circulação nacional.


Nenhuma mulher está sozinha. Mulheres andam juntas, de forma direta ou indireta, e elas podem ser menosprezadas, atacadas, estupradas e até mortas todos os dias, mas sempre haverá outras mulheres para lembrarem à sociedade que independente de qualquer coisa, ainda estarão aqui.


A cada dia, uma garota negra vê uma mulher negra ocupando espaços de destaque e percebe que ela também pode. A cada dia, uma mulher vê que Dilma Rousseff ganhou a presidência da república, e que ela também pode. As mulheres estão se empoderando e começaram a ocupar espaços. E quando uma mulher ocupa determinado espaço, ela inspira outras mulheres a fazerem o mesmo.

https://youtu.be/D9ZCGRon87E

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