O Noutras Palavras desta semana propõe colorir o seu dia. Na última terça-feira (28) comemoramos o Dia Internacional do Orgulho LGBT, mas para quem é LGBT, todo dia é dia de se orgulhar. Essa data foi eleita a partir do ano de 1969 quando houve um episódio de resistência LGBT no bar Stonewall Inn, da cidade de Nova York. As pessoas presentes no bar naquele dia resolveram se revoltar contra a violência policial lgbtfóbica ocorrida naquela ocasião. No ano seguinte, ocorreu a primeira parada LGBT do mundo.
Muitas pessoas atribuem o surgimento da militância LGBT a esse episódio, junto a outro acontecimento, que foi o pronunciamento do pastor John Pavlovitz sobre o assunto. O pastor disse que “se tivesse filhos gays, os amaria da mesma forma que qualquer filho heterossexual”. É comum que as pessoas aplaudam essa declaração que viralizou na internet como o marco inicial da militância LGBT.
Entretanto, o pastor Pavlovitz era um homem heterossexual. Você realmente acha que quando ele se pronunciou foi a primeira vez que a causa LGBT veio à tona? As próprias pessoas LGBTS têm suas vozes, e falam por si mesmas. E vem cá, vamos combinar: quando você é LGBT, você tem de lidar com preconceito cotidianamente, quando a própria existência das pessoas LGBT já é uma forma – relevante, aliás - de militância e resistência.
Dessa forma, pensar que um homem heterossexual foi o precursor da luta LGBT pode ser, em si, um ato de lgbtfobia. O pastor não mencionou as lésbicas, as bissexuais e nem as transexuais em sua fala, ele só falou sobre os homens homossexuais. Ou seja, não teria ele propagado o machismo, transfobia, bifobia e lesbofobia? É necessário lembrar, então, que nenhuma militância que exclua pessoas é realmente revolucionária. Dessa maneira, não adianta apoiar as pessoas LGBTS e falar sobre lgbtfobia no lugar delas. É necessário saber que as pessoas oprimidas sistematicamente têm muito o que dizer, e precisam ser ouvidas, sem a capacidade de ouvir o outro, não existe respeito, nem poder de mudança.
A partir desse mesmo fato, vamos fazer uma análise. Quando uma pessoa heterossexual fala sobre lgbtfobia, ela é ouvida. Mas quando as próprias pessoas LGBTS, que realmente sofrem essa opressão, falam sobre ela, elas nem sempre são ouvidas. Somente as pessoas LGBTS sabem o que sofrem, somente elas podem lutar por si mesmas./ somente elas se representam e é por isso que o orgulho LGBT é tão importante. Quando as pessoas se orgulham de quem são, elas adquirem o poder e a confiança necessários para ter coragem de ocupar espaços.
Em virtude da sociedade exclusicionista em que vivemos, é necessário que as pessoas historicamente oprimidas comecem a ocupar os espaços que eram para ser delas por direito, mas lhes foram tomados pelo preconceito e pelo ódio.
Urge salientar que ninguém nasce com preconceitos, a desconstrução de paradigmas é um processo que ocorre ao longo do tempo. Dessa forma, é necessário que as pessoas estejam dispostas a entender e assimilar as particularidades de quem é diferente delas. Lembre-se que não adianta nada apoiar os homens gays e se esquecer, por exemplo, das transexuais e das travestis, que têm suas próprias exigências e lutas.
Nessa semana do orgulho LGBT, é necessário lembrar também que os preconceitos se conectam. O racismo também existe, e deve ser combatido com garra, assim como a lgbtfobia e o machismo. Em um país como o Brasil, é indispensável falar sobre a política ao citar os direitos humanos. Haja visto que o número de deputados machistas, racistas e lgbtfóbicos que ocupam as nossas bancadas é gigantesco.
Os políticos do país têm a função de representar o povo, e aí eu te pergunto, ouvinte: esses políticos, dos quais a maioria é homem, branco, cisgênero e heterossexual, está representando a todos?
Contudo, nem tudo é tristeza. Nessa semana, o YouTube lançou a campanha orgulho de ser, na qual diversas pessoas LGBTS deram seus relatos em vídeos no site, ao falar dos seus motivos de ter orgulho de ser LGBT. O canal das Bee, participa desta campanha e lançou um vídeo convidando todas as pessoas LGBTS a se unirem, dizendo "unidos somos mais fortes". Nesse vídeo, eles falam para essas pessoas entrarem para coletivos e movimentos LGBT e, além de ajudarem a si mesmas com isso, ajudam outras pessoas também. Assista o vídeo: