Na ultima terça-feira uma notícia abalou o Campus Samambaia da UFG e toda a comunidade goiana. Um estudante da Faculdade de Comunicação que vamos chamar apenas de D.B. relatou ter visto uma garota com as vestes comprometidas e notoriamente dopada ser lançada para fora de um gol preto no estacionamento de sua faculdade. De acordo com o estudante, a garota correu para o banheiro para se limpar, e ele ao tentar ajudá-la, a assustou ainda mais. A menina fugiu e não foi mais vista.
Na mesma noite uma professora encontra uma calcinha dentro de um dos banheiros da Universidade, e no dia seguinte estudantes da Faculdade de História admitiram terem ouvido e ignorado gritos. Os próprios alunos se organizaram para procurar a garota, pois a guarda do campus quando acionada se limitou a dizer que se fosse algo sério a garota deveria ter gritado mais alto. Rapidamente o caso ganhou repercussão e as estudantes da universidade, já familiarizadas com o ambiente hostil, pediram, e continuam a pedir, posicionamento da universidade. Na manhã seguinte, quarta-feira (15) ocorreu uma marcha do pátio da Faculdade de Comunicação até a reitoria, e então deu-se início a Primeira Ocupação Universitária e Feminista Do Brasil.
Denúncias de estupro sempre sofrem tentativas de deslegitimação, principalmente em situações como esta em que a imagem de grande instituições estão em jogo. Neste caso específico, com nenhuma prova e a vítima desparecida a dúvida esteve presente desde o começo. Tudo piorou quando D.B. fez sua denúncia formal e várias informações começaram a se desencontrar. Na sexta-feira (17), a delegada responsável pelo caso declarou que D.B havia inventado toda a história.
Profissionais de grandes veículos de comunicação da capital goiana tentaram realizar a cobertura da ocupação, entretanto, as estudantes que não concordam com o enfoque que este tipo de mídia realiza quando o assunto, não permitiram a presença destes profissionais. O embate entre as estudantes e estes grandes veículos midiáticos se reforçou quando a cobertura do caso passou a trabalhar na insistência do relato ser falso, e no comprometimento em diminuir a credibilidade do movimento das estudantes que ocuparam a reitoria na quarta-feira. Os profissionais desta mídia afirmam ter sofrido violência quando expulsos da ocupação.
Objetivo da luta
Mas sejamos realistas, mesmo que haja possibilidade do relato do estudante ter sido inventado, as reivindicações do movimento continuam legítimas. Não foi a toa que a história é tão fácil de se acreditar, pois, quem estuda na UFG sabe que o ambiente não é nada favorável para as mulheres. Nós mulheres somos assediadas, perseguidas e menosprezadas diariamente. A iluminação, atualmente, é precária e a segurança é praticamente inexistente. Este caso foi apenas o estopim para que as estudantes se unissem para reivindicar melhores condições. No entanto alguns veículos de comunicação teimam em apenas questionar a veracidade deste caso e expor ao ridículo o jovem que denunciou o caso. A veracidade do caso não determina se a instituição oferece um ambiente seguro ou não para as mulheres.
Esta não é a primeira polêmica envolvendo o nome da UFG. Só neste primeiro semestre de 2016 um professor da faculdade de educação protagonizou um caso de racismo descarado e a festa conhecida como INTER UFG divulgou um “ranking de pegação” claramente racista e machista, onde conseguir pegar garotas negras valia menos pontos do que garotas brancas ou de qualquer outra etnia. A reação da universidade continua sendo a mesma: manter-se na defensiva. A verdade é que nada disso é novidade. A diferença é a repercussão que esses casos vem tendo, o que antigamente passava batido, agora é bradado aos sete ventos. As vítimas estão aprendendo a reconhecer que não são culpadas pelo o que lhes acontecem e exigem seus direitos. A coordenadoria de ações afirmativas cresce a passos largos enquanto as estudantes gritam “nós existimos e resistimos!”. As mulheres vão sim ocupar a reitoria, assim como todos os espaços da universidade e da sociedade.