Tratar de temas entendidos por indivíduos de diversas idades influencia não só sobre o receptor, mas também na forma de agir de outros especialistas, sobretudo, quando possui algum diferencial, inova, acrescenta conhecimentos, ensina e permite reflexões. Afinal, o que torna algo clássico? Quais são os clássicos da literatura fantástica? A verdade é que diversas respostas podem ser dadas a esta pergunta devido a sua subjetividade.
O termo “clássico” já foi usado para se referir a manifestações da Grécia Antiga, seja no teatro ou em mitos. Todavia, com o passar do tempo, a palavra foi reinventada. A permanência daquela obra que, a cada vez que se olha, surpreende e não envelhece dá a entender que um clássico é algo complexo em meio a sua simplicidade. Já disse o escritor Ítalo Calvino: “clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha de dizer”.
Reconheço que esta não é uma pergunta fácil, e sua infinidade de definições nos trouxe alguns renomes da literatura fantástica que destacamos. O gênero literatura fantástica sempre esteve entre nós. Ao se contar um mito ou uma lenda você provavelmente estará falando de narrativas ficcionais, centradas em elementos imaginários, em elementos fantásticos. E é com essas características que iniciamos nossa caminhada por uma estrada inacreditável. Vamos voltar alguns anos no tempo, okay? 184, para ser mais exato. Nascia o romancista, poeta e desenhista Charles Lutwidge Dodgson. Pera, quem?! Você deve conhecê-lo como Lewis Carroll.
Lewis Carrol
O autor do renomado “Alice no País das Maravilhas”, além de outros poemas escritos em estilo nonsense ao longo de sua carreira. Todos considerados políticos e precursores da poesia de vanguarda. Sua maior obra, Alice, é constantemente catalogada como um livro infantil, quando, na verdade, é psicodélica, imaginativa, crítica e atemporal. Pode-se tirar da história lições e ideias para crianças, jovens, adultos e idosos.
A famosa personagem de Carroll foi inspirada em Alice Liddell, filha de seu amigo, Henry Liddell. A história surgiu durante um passeio de barco com as três filhas de Henry, quando Carroll improvisou uma história fantástica em que Alice era a personagem principal. No final daquele mesmo ano, a história da menina que caía em um buraco se transformou em livro. “As Aventuras de Alice Debaixo da Terra” era o título do livrinho que Lewis deu para Alice como presente de natal. Nos anos 1930, “Alice no País das Maravilhas” foi banido na China, porque alguns julgavam desrespeitoso que personagens animais fossem capazes de usar a linguagem humana. Curioso, não?
Lovecraft
Saltando 50 anos no tempo, nasce o escritor que revolucionou o gênero de terror e lhe atribuiu elementos fantásticos típicos da fantasia e ficção científica. Howard Phillips Lovecraft, conhecido apenas como Lovecraft. Seu princípio literário é o que ele chamava de “cosmicismo” ou “terror cósmico”, consistia na ideia de que a vida é incompreensível ao ser humano e o universo é infinitamente hostil a seus interesses.
Lovecraft deu origem ao conjunto de histórias que hoje são conhecidas como “Os Mitos Cthulhu”. Nelas, encontram-se um panteão de monstros, entidades cósmicas e seres fantásticos que influenciam gerações de escritores. Os trabalhos de Lovecraft expressam uma atitude profundamente pessimista e cínica, desafiando valores do iluminismo, do romantismo, cristianismo e humanismo.
O autor dispôs durante toda sua vida de um número relativamente pequeno de leitores. No entanto, sua reputação aumentou consideravelmente ao longo das décadas e, atualmente, é considerado um dos escritores de terror mais influentes do século 20. Stephen King o chamou de “o maior praticante do conto de horror clássico”.
C. S. Lewis
Nasce em 1898 o escritor Clive Staples Lewis, comumente referido como C. S. Lewis. Ele foi professor universitário, escritor e crítico literário. Durante a Segunda Guerra Mundial, teve destaque por dar palestras motivadoras na rádio BBC de Londres. É conhecido por seus trabalhos envolvendo apologia cristã, tais como: “O Problema do Sofrimento”, “Cristianismo Puro e Simples” e, sua obra mais famosa, “As Crônicas de Nárnia”.
Composta por sete livros, As Crônicas De Nárnia mescla elementos de mitologia nórdica e grega com temas cristãos e contos de fadas. Faz várias alusões a bíblia e ao cristianismo, mesmo o autor tendo afirmado que as conexões não foram propositais. O leão Aslan, por exemplo, seria uma alegoria de Deus, visto que ele criou o mundo de Nárnia e aparece em todas as histórias como um conselheiro.
Apesar de ocorrerem no mesmo universo ficcional, as sete histórias apresentam perspectivas bastante diferentes. Ainda assim, podemos eleger cinco personagens principais que se destacam por aparecerem com maior frequência: o leão Aslan e os irmãos Pevensie.
PKD
Philip K. Dick é o próximo autor da nossa trupe que se dedicou a literatura fantástica e fez obras que se tornaram clássicas. O escritor de ficção científica alterou profundamente este gênero literário, e apesar de ter tido pouco reconhecimento em vida, as adaptações para o cinema de vários de seus romances tornou sua obra conhecida por muitas pessoas, sendo aclamada tanto pelo público como pela crítica.
K. Dick explorou em muitas de suas histórias temas sobre a realidade e a humanidade utilizando pessoas comuns como personagens e não heróis galácticos de outras obras do gênero. Seu livro “Andróides Sonham Com Ovelhas Elétricas?” deu origem ao filme "Blade Runner" e mostra a crise moral de Rick Deckard, um caçador de recompensas que persegue andróides em uma São Francisco pós guerra nuclear.
Quando George Lucas teve a icônica ideia de projetar um futuro com máquinas avançadas, porém usadas e sujas em Star Wars, os elementos de futurismo retrô, desgastado, já estavam lá em K. Dick talvez duas décadas antes, ainda que a space opera não fosse seu lance. Os filmes "Minority Report", "O Vingador do Futuro", "Assassinos Cibernéticos" e "Agentes do Destino" também são baseados em romances ou contos de Dick.
George R. R. Martin
Nosso próximo autor ainda está terminando sua principal obra, mas não há dúvidas que "As Crônicas de Gelo e Fogo" de George R. R. Martin já é um clássico. Com 5.216 páginas, os cinco livros estão sendo lançados ao longo de 20 anos. O primeiro livro, "A Guerra Dos Tronos", levou cinco anos para ser elaborado e teve seu lançamento em 1996. Já o quinto livro, e último a ser lançado, foi a venda em 2011.
Martin planeja publicar mais dois livros da saga, cada um deles com cerca de 1.500 páginas. Existem três argumentos principais na história que se ligam cada vez mais. A crônica de uma guerra civil dinástica entre várias famílias pelo controle dos reinos, a ameaça crescente de criaturas sobrenaturais conhecidas como “os Outros” e a ambição de Daenerys Targaryen prestes a voltar à sua terra e reivindicar seu trono por direito.
A série foi traduzida para 20 idiomas e tem mais de 4 milhões e meio de cópias impressas nos Estados Unidos e vendeu mais de 25 milhões de exemplares mundialmente. Todos os romances foram bem recebidos pela crítica literária e pelo público.
Douglas Adams
Falemos agora do autor mais prestigiado entre os nerds e homenageado todo 25 de maio no Dia da Toalha, Douglas Adams. Autor da denominada trilogia de cinco livros, a série "O Guia do Mochileiro das Galáxias” conta a história de Arthur Dent, que, em um belo dia, acorda com o som de máquinas destruindo sua casa e como se não bastasse, seu amigo Ford Prefect (que era um alien disfarçado) o informa que a Terra será destruída imediatamente para a construção de uma via espacial. Eles fogem e começam suas aventuras ao lado do robô Marvin, a mulher chamada Trillian, que Arthur encontra em uma festa, e o presidente da galáxia, Zaphod Beebleprox.
Um detalhe importante na história é o valor da toalha para os viajantes da galáxia, tendo dedicado uma página inteira para falar sobre ela, decidiu-se usar a toalha como tema da homenagem ao autor.
Para escrever “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, Douglas Adams se inspirou em um guia de viagem para a Europa. O insight veio em um sonho enquanto ele dormia bêbado em um campo da Áustria. Será que foi nesse sonho que ele encontrou a resposta para a vida, o universo e tudo mais?
Calma...
Não chegamos nem perto de contemplar todas as obras clássicas da literatura fantástica, como as grandes obras do J. R. R. Tolkien, “Desventuras em Série” de Daniel Handler, “Harry Potter” de J. K. Rowling, que teve seu retorno em uma peça de teatro este mês, “As Odisséias de Arthur” de C. Clarke, Eduardo Spohr com seus “Filhos Do Éden” e incontáveis outros que deixam sua marca até mesmo no guardanapo que escrevem. Com seu devido tempo, o Materia-Prima irá fazer as merecidas homenagens a cada um que não foi citado hoje. Até lá, que tal ler mais uma vez todos os autores do texto?!